sábado, 15 de dezembro de 2007

Vamos lá! ... Vamos?


Chega de vagabundagem de fazer copy and paste de urls do youtube. Palavras verdadeiras virão agora. O exorcista pega o livo de rituais romanos e vai começar o sermão!
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Mas não agora agora agorinha...daqui a pouco...
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Mente é um branco.
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rever post de To do List.
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amanhã algo surgirá. Tem que surgir.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Hitchcock recriado

... por Scorsese e pela publicidade. De qualquer forma, é uma brincadeira bem divertida.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Didi Mocó

Não se faz mais Didi Mocó como antigamente. Quando que o Aragão hoje - ou mesmo qualquer outro programa em TV aberta - faria humor de cenas de sodomização untada de um filme do Bertolucci?



A única parte ruim disso é que uma cena dessas me faz lembrar do domingo que está acabando e eu ainda não fiz a minha lição de casa.

agradecimentos a Malu pelo link

terça-feira, 27 de novembro de 2007

It's not a significant bullet...

O cara faz Fitzcarraldo, Aguirre, Grizzly Man.. então é claro que ele não se importa em levar um tiro à toa.
Werner Herzog is the man!
Vejamos em breve seu novo filme "Rescue Dawn"

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

There Will Be Blood

Com as mortes recentes de Bergman e Antonioni, muitos perguntam quem são os mestres vivos do cinema. Lynch, Almodovar, Wong Kar Wei... esses são grandes, mas Paul Thomas Anderson parece estar trilhando um caminho muito interessante. POde ser que morra na praia, mas o cara é sério. 
O que é absolutamente certo é que Daniel Day Lewis é um deus. Só de ver o trailer ele me faz quase chorar e arrepiar a alma. 
 


estréia ano que vem.

domingo, 30 de setembro de 2007

Charlotte Sometimes

São raras as criaturas sobre a terra que, se passassem aqui na frente de casa, seriam capazes de me fazer questionar meu matrimônio: Louise Wener(ex vocalista do Sleeper), PJ Harvey, Britta Phillips, Ziyi Zhang e Charlotte Gainsbourg. 
Filha da realeza pop francesa, ela é tão bacana quanto qualquer música do seu pai, Serge... talvez não mais que "Chatterton", mas enfim. Recentemente seu nome esteve em manchetes por conta de sua internação por hemorragia cerebral causada por uma acidente de esqui aquático(até pra isso ela é chique.). Parece que está tudo bem. Tomara. Ela pode não ser uma atriz fantástica, e o "queixão" não a deixa nas listas das mais sexy (fora a minha, claro), sua voz no ótimo disco "5:55" não é fantástica(embora as músicas não parem de tocar no meu ipod), mas ela tem A presença, como sua mãe Jane Birkin. Talvez até mais. 
Passou agora no Festival do Rio "The Science of Sleep", eu já vi aqui em casa algum tempo atrás(não me pergunte como) e, embora como intérprete o Gael Garcia Bernal sapateie em cima dela, sua figura é mesmo da a mulher idílica por suas imperfeições. O personagem de Gael sonha com uma mulher que ela não é, mas como ele quer que seja. Seu mundo de sonhos torna-se tão mais interessante que ele passa a viver dentro dele. Sonho e realidade se mesclam resolvendo por vezes e problematizando na maioria das outras vezes a própria realidade.A felicidade completa é impossível na vida real.  A felicidade do sonho é caso para tarja preta. Ou seja, a humanidade está perdida como sempre. 
Michel Gondry (o mesmo diretor de Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças) prova que não precisa de Charlie Kaufman de roteirista para ser um ótimo contador de histórias surreais. E ele ainda escolhe Charlotte Gainsbourg pro elenco. Way to Go, Michel! 
Desejando melhoras a Charlotte e também desejando que ela nunca passe aqui na frente de casa pra não complicar minha vida, deixo aqui uma foto dela no filme de Gondry e um link de 5:55 no YouTube(o embed da musica está proibido, damn!): http://www.youtube.com/watch?v=JKPXPJryp3g

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Delfin

O Mundo precisa saber disso!!!
Obrigado Guilherme por me trazer este link. Eu não sei dizer o que é melhor aqui. Talvez seja a qualidade da interpretação, talvez seja a letra pungente, talvez seja o elegante figurino ou talvez seja simplesmente o número de contato do bagual no topo da tela. Liga lá e contrata para um show na sua casa. Mmmm.. É demais pra você, né?
O que o pessoal do Tim Festival está fazendo que não contratou esse cara, porra?
Tá certo, a grandiosidade requer um Maracanã só pra ele. Entendam os motivos clicando abaixo. Som na caixa!

domingo, 23 de setembro de 2007

Dica's Tropicaliente 2 - Wolfgang Press

Essa é velha, mas eu nunca tinha visto o clip. Vi o último show da banda no Jazz Café em Londres em 95, pouco antes deles terminarem. Pena que não tem mais. A música abaixo é um clássico do Tom Jones. "That ain't the way to have fun, son!"

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Dica's Tropicaliente - episódio 1 - DEXTER

Por sugestão do Guilherme "The Man" Sant'anna, começo aqui uma nova série de dicas de programas e músicas com nome inspirado na célebre "casa de diversões" curitibana. Para começar, estou viciado num seriado que eu julguei uma tremenda "forçação" de barra pelas chamadas, mas que é muito esperto e tem diálogos geniais. DEXTER conta as aventuras de um serial killer de serial killers. Trabalha durante o dia como hematólogo para a polícia e à noite sai para caçar assassinos que escaparam do sistema. Essa é a parte bocó. O legal mesmo são as relações estabelecidas nas histórias paralelas. Sobre querer ser normal ou querer ser um humano socialmente aceitável. Os roteiros dos episódios brincam com a nossa noção de normalidade, com a necessidade de se encaixar na sociedade e com os nossos próprios sadismos. Aqui vai um trailer pra quem quiser ver na FOX ou em qualquer outro lugar que vocês sabem como ver: 
   

domingo, 9 de setembro de 2007

Pogo Ball

Frantic Flintstones - ontem
Já lanço dois posts aproveitando que estou animado. Senão esqueço disso e ... bem, espero que alguém leia e faça isso valer a pena.
Ontem fui no Psychobilly Festival que encerrou com show dos britânicos Frantic Flintstones. Independente da apresentação (divertidíssima e genialmente executada), a diversão num festival desses é sempre garantida. 
Devo confessar... eu, pai de família, professor de curso superior, master of arts pela royal holloway e tudo mais... ADORO POGO!!!!!!!
Tá, já se foi o tempo de eu me jogar lá dentro e levantar meus braços 90º com o corpo para defesa/ataque. Peço então emprestadas as eloqüentes palavras do senhor Aurélio Marinho Jargas de http://aurelio.net/musica/pogo.php  :
"O movimento é o seguinte: você anda, dando os passos no ritmo da música. A cada passo, a perna é levantada e esticada, dando-se um chute no ar, como se estivesse chutando uma bola de futebol. Um chute médio, nem fraco nem forte.
Nota: O detalhe é que ao invés de chutar o ar, você chuta outras pessoas, pois estão todos espremidos, lembra? Mas preste atenção, você não está chutando outra pessoa porque você quer. A música faz você chutar o ar e por acaso há outra pessoa no lugar do ar. Tanto o chutante quanto o chutado estão cientes disso, então todos se chutam o tempo todo e isso é normal.
O tronco e a cabeça são movimentados para um lado e para o outro, acompanhando o ritmo e os chutes. É a ginga.
Os braços ficam dobrados em 90 graus e os punhos fechados, fazendo um movimento alternado, para frente e para trás, no ritmo da música. É como um boxeador em posição de defesa do rosto, só que com a guarda mais aberta (os punhos não se tocam) e os cotovelos bem afastados. A cabeça fica levemente abaixada. Esta é uma posição de defesa da cabeça, para evitar colisões. Assim, nos choques o que se bate são os cotovelos e antebraços.
Algumas variações incluem uma posição diferente dos braços, dobrados na vertical e fazendo movimentos para cima e para baixo. Ou ainda dar joelhadas no ar ao invés de chutar."

Aê!!!!!!! It's a Holiday in Cambodia!!
O mais legal de tudo isso é que é uma diversão meio fight club. A violência é necessária... mas carinhosa. Pelo menos ontem, quando a diversão estava ... er... "civilizada"...quando alguém, no meio da roda perde o equilíbrio ou leva um jab torto que acaba o levando ao chão, é imediatamente ajudado por seus companheiros que acabaram de nocauteá-lo. Não me pergunte agora o porquê, pois não cabe filosofar... mas eu vejo uma baita poesia nisso. 

"Champagne for all!!!" 

Paranóias e Fantasias

a fantasia do fauno
a paranóia de friedkin

Todo ano no meu aniversário tento "me dar" uma sessão de cinema à tarde. Ver um filme à tarde é sensacional, mas é justamente a raridade do evento que transforma a experiência em algo especial. 
Este ano aconteceu uma pequena coincidência. Fui ver "Possuídos"(Bug), com direção do William Friedkin(Sim, o diretor do Exorcista himself!) que curiosamente festeja seu aniversário no mesmo dia que eu. Bem, frescuras à parte, o filme pode não ser um dos melhores dos últimos anos, mas traz um ambiente extremamente perturbador e algumas questões interessantes sobre o problemático instinto de sobrevivência social do ser humano. 
Ashley Judd (que sempre fez papel de bonitona, mas que aqui se embagaçou feio à propos do roteiro) é uma mulher solitária que trabalha como garçonete num bar de lésbicas enquanto tenta esquecer do seu marido na cadeia e do desaparecimento de seu filho. Michael Shannon(um excelente ator de teatro que repete aqui o mesmo papel que representou no palco) é um homem tímido e misterioso que aparece na vida da personagem de Judd sem aparentemente nenhum interesse passional ou sexual, mas que, ao longo do filme confessa ser um desertor da guerra do iraque com fortes traumas de guerra. Ele imagina que tem insetos sob sua pele, comendo seu corpo e mandando informações ao governo num absurdo exercício de teoria da conspiração. Sua fé cega nestes insetos invisíveis torna-se central em sua vida e Judd, para não se sentir só, começa a crer também na existência dos bichinhos. 
Quando duas pessoas se envolvem, cria-se uma nova realidade entre elas e somos capazes de acreditar em qualquer coisa, mesmo que seja numa paranóia desmedida, só para não ficarmos sozinhos. Temos que ser loucos para pertencer.
Que maldito bichinho aciona este mecanismo de segurança que é capaz de nos levar até a autodestruição feito a Nostromo. 
Algo semelhante acontece no meu filme favorito de 2006, a obra-prima O Labirinto do Fauno, de Guillermo del Toro. A menina Ofelia se vê impelida a acreditar num mundo de fantasia povoado por reis, faunos e fadas afim de escapar de sua tenebrosa vida real em meio a um padrasto-militar-franquista-sociopata-misógeno (um dos melhores bandidos de todos os tempos, cortesia da magnífica interpretação de Sergi Lopez). Ela busca a sua loucura para não pertencer, ou melhor para pertencer a algo que tenha a visão de mundo de sua inocência, violentada a cada segundo com tragédias consecutivas. 
Criamos paranóias, fantasias e delírios para tentar encontrar algum centro. Saímos do centro para tentar encontrar nosso próprio eixo.
É como o homem do corvo de Edgar Allan Poe, que sabe perfeitamente que o corvo não quer dizer e nem sabe o significado de 'nevermore', mas mesmo assim quer acreditar piamente na intenção do animal para poder justificar sua dor.
"And the raven, never flitting, still is sitting, still is sitting
On the pallid bust of Pallas just above my chamber door;
And his eyes have all the seeming of a demon's that is dreaming.
And the lamplight o'er him streaming throws his shadow on the floor;
And my soul from out that shadow that lies floating on the floor
Shall be lifted--- nevermore!"

Isso nunca vai mudar. Tomara! São essas loucuras que, embora socialmente nefastas, fazem do ser humano uma contínua fonte de inspiração artística. Todos fazemos isso. Em escala maior ou menor, mas fazemos. Resta saber os limites de nossas loucuras e vôos da mente nas asas negras de um corvo imaginário. 

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Good Fruit - sing along

Faz tempo que eu não coloco nenhuma letra aqui. A selecionada para o sing along de hoje é do Hefner. Atenção para meu verso favorito:
"You should stick around 
To see me hit the ground
it's such a pretty sound." 

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

To do list. Today.


1 - Tenho que pagar umas DARFs de impostos...
2 - Anátema, que esteve em cartaz semanas atrás no ACT trouxe a Curitiba a melhor atriz do Brasil da atualidade, Juliana Gaudino. Levanta um dedo e consegue expressar um soco, resolve as dificuldades do texto quase literário como quem passa manteiga mole em pão. 
3 - Tenho que passar o dinheiro do condomínio pra minha irmã. 
4 - Crise da sala de operação resolvida, entramos agora na crise da cozinha. Grilling results to come.   
5 - Preciso pegar o seguro saúde com minha mãe e pagar entrando numa fila do HSBC. 
6 - Ratatouille é um dos melhores filmes do ano. Tenho dito. Aquele Rato expressa mais humanidade que 90% dos filmes que estrearam desde janeiro. 
7 - Tenho que ir lá na portaria de um cliente pegar DVDs para digitalizar antes de reeditar. 
8 - Die Hard 4.0 . Faço uma autocitação... "Eu queria ser o Bruce Willis" / "Em qual filme?" / "Duro de Matar, é claro" / "Qual número?" / " O Dois, por que o resto é uma bosta!" . Todos são bacanas e divertidos. Esse último idem. É como ver um bom show de palhaços de circo. Não espere apresentações de relações humanas Bergmanianas... ah... sim. que fique aqui a minha homenagem.  Bergman morreu no dia 30, segunda feira. A primeira frase de "Gritos e Sussurros" dizia: "É segunda feira e eu estou sofrendo..." Obrigado, Ingmar. Obrigado Michelangelo. 
9 - Tenho que preencher uma nota fiscal e deixar para outro cliente. 
10 - Tenho que preparar um material pra reunião.
11 - Tenho que preparar as aulas de amanhã
12 - Tenho que montar um projeto.
13 - Tenho que escrever dois textos.
14 - Tenho que consertar o superdrive
15 - Tenho que arrumar o escritório
16 - Tenho que fazer a barba
17 - Tenho que sair da cama.
18 - Tenho que dar um tiro na cabeça.... não. Esse não precisa.   Prefiro trocar isso por...

... 18 - Dar um baita beijo na bochecha da minha filhota.  Pronto. Tá resolvido.

sábado, 28 de julho de 2007

Problemas no segundo ato


Não sou um fã incondicional de David Mamet, mas ele tem toda a razão em fazer graça com a crise de criação de um texto no segundo ato, como ele faz em Os Três Usos da Faca. 
Lembro de Nicolas Cage em Adaptação(um filme que não gosto muito) fazendo autonegociações("Eu escrevo mais um pouco e depois me dou um pedaço de bolo e um cigarro como presente. Não. Eu como um bolo e fumo um cigarro e depois vou me sentir melhor para escrever... " etc...) ou então com a personagem de Emma Thompson em "Stranger Than Fiction" (esse sim um filme que eu gosto.) Não sabendo o que fazer com seu personagem que deveria ter vida própria, mas não tem. 
Resta-me por enquanto assistir a uma obra prima e usá-la como musa particular: Dead Ringers/Gêmeos - Mórbida Semelhança do Cronenberg. Tudo isso para continuar a escrever um texto que se chama Nervo Craniano Zero. Em breve - assim esperamos - num teatro perto de você. A peça tenta emular este universo cronenberguiano, mas com um ótica um pouco vigormortiana. A premissa está resolvida: uma ficção científica sobre controle tecnológico do corpo (quintessential Cronenberg) e as dificuldades de relacionamento social e profissional (quintessential Vigor Mortis). O resto ... por enquanto... é silêncio. Desculpem o mal uso shakespeariano da frase clichê, mas é o que melhor representa a crise do 2º ato. 
Deixe quieto. Agora é hora de me deliciar com essa interpretação célebre do Jeremy Irons e depois eu resolvo a clássica crise do segundo ato. 
Lembro agora do que eu disse a amigos que sentavam ao meu lado quando vi este filme pela primeira vez no Cine Luz: "Preciso de um guindaste para me levantar dessa cadeira." 
Talvez a lembrança dessa emoção seja já um caminho pra resolver esse impasse.   

demon


sim. a vida é boa. 
se você tinha planos de se matar nos próximos meses, veja este poster e perceba que seu plano de abandono deste mundo cruel pode ser deixado pra depois. 
Burton & Depp are back!!

domingo, 1 de julho de 2007

Here come the Motherf**** Fuzz!!


Simon Pegg, Edgar Wright e Nick Frost e sua turma são meus novos melhores amigos.  

Depois do saborosíssimo Shaun of the Dead (que recebeu no Brasil o lamentável título de "Todo Mundo Quase Morto") onde eles pegavam os filmes do George Romero e faziam uma sátira super bacana sem apelar para inside jokes ciematográficas(como agora é a moda "postmodernpop" de Shrek, Todo mundo em pânico ed caterva...) criando um universo divertidíssimo ao som de Queen na Jukebox do Winchester Pub: 
- So what's the plan? 
- The Winchester!! 
Quando vi o filme a primeira vez pensei... "Cacete! Esses caras tão fazendo exatamente o que eu queria fazer com Morgue Story. Bota a sincronicidade jungiana na P queos P!!" 
Isso sem falar no melhor slogan dos últimos vinte anos: 
"Uma comédia romântica... com zumbis" 
Agora eles me vem com um novo filme "HOT FUZZ" e fazem a mesma lógica dos filmes de morto vivo só que desta vez são os filmes de ação hollywoodianos. Die Hard, Bad Boys e Point Break são referências que não aparecem como motivos de pastiche, mas sim como homenagem bem humorada. Não se olha para estes filmes vendo o ridículo, mas sim percebendo como são DELICIOSAMENTE RIDÍCULOS. 
Simon Pegg interpreta o Sargento Nicholas Angel, policial exemplar da políca metropolitana de Londres que - por excesso de competência -  é transferido por seus superiores para o aparentemente pacato vilarejo de Sandford, uma cidade que tem nível de criminalidade zero e a maior estatísica de mortes por acidente do país. A trama que segue já pode ser prevista, mas é no carisma do elenco e no roteiro boboca mas bem resolvido e criador de células de empatia que o filme se sustenta. 
E o que são essas células? 
Seguindo a mesma estrutura de diálogos de Shaun of the Dead, o diretor Edgar Wright e Pegg, que também são roteiristas, nunca deixam nenhum ponto sem nó. Usam um diálogo inicialmente usado para preencher uma situação corriqueira e banal se repetir em outra situação totalmente fora do comum. Ou seja, quando Pegg chega no hotel da cidadezinha é recebido pela dona do estabelecimento que está fazendo palavras cruzadas. Ela diz:
- "Fascist." 
- "O que?",  pergunta ele.
- "Nas palavras cuzadas. Regime político radicalmente ditatorial"
- "Fascism", ele conserta e depois acrescenta "Hag(Bruxa)" 
- "O que?", pergunta a velhinha já se ofendendo.
- "Terceira linha das palavras cruzadas", ele diz, "Mulher tida como má ou feiticeira. Três letras".   
Passada uma hora e meia de filme, testemunhamos um sensacional e maravilhosamente pirotécnico(onde o gratuito se torna linguagem) duelo entre Nicholas Angel e os moradores de Sandford, a mesma senhora surge com uma metralhadora automática apontada para o nobre Sargento e começa a atirar gritando:
- "FASCIST!!!"
Com sua pontaria certeira, Angel responde com um tiro num vaso pendurado sobre a cabeça da velha e faz com que ele caia sobre ela. 
- "HAG!" - crava Angel com uma voz cavernosa de Dirty Harry atrás de seus óculos escuros. 

Pra completar as características desse filme que parece ser tailormade pra mim, o tema final é do Jon Spencer, o mesmo que tocava ao receber o público nas apresentações de Morgue Story.  
Não é Orson Welles, nem Kubrick, nem Vertov, nem Truffaut, nem Scorsese, nem Coppola, mas é o mesmo prazer inexplicável de ver Fred e Ginger ou melhor ... o prazer em forma de película de ter uma ébria noite com ótimos amigos num pub enxugando pints de lager e falando coisas muito engraçadas sobre filmes de ação.

(obs.: o filme não foi lançado no Brasil e pelo jeito vai ter o mesmo fim do Shaun of the Dead. Lançado direto em vídeo provavelmente com um título do tipo "Corra que o Tira Vem aí". )

sábado, 23 de junho de 2007

"It's not the years, honey, it's the mileage."

Eu tinha 12 anos. Era Março e eu saí da escola e fui almoçar na casa da minha tia Didi para depois ir direto ao cine Bristol que era ali perto. Sim, eu já começava a conquistar meu espaço de liberdade. Já tinha feito isso antes para ver a reprise de Os Canhões de San Sebastian. Um filme muito ruim por sinal. Caçadores da  Arca Perdida já tinha ganho seus 5 oscars técnicos e eu só não tinha visto ainda porque minha idade me impedia de furar a a censura 14 anos quando o filme estava em cartaz no Cine Condor. Mas agora, em sua reprise no Bristol, a coisa era diferente. Eles não eram tão rígidos com o controle da idade e seriam menos ainda na primeira sessão da tarde. Era esse o meu plano maligno e naturalmente deu certo. Entrei no cinema sem ser questionado sobre a adequação de minha idade em relação às cenas violentas do filme. Fico imaginando se eles tivessem me barrado. Tudo seria diferente. Eu provavelmente estaria olhando para minha carteirinha da OAB ou algo que o valha. 
O filme começou. Meu juvenil interesse por egiptologia aliado ao natural culto a criações de George Lucas(socialmente obrigatório para garotos da minha idade) já antecipavam algum frisson pelo  que estava por vir, mas nada era forte o suficiente. 
"SNAKES, WHY DID IT HAVE TO BE SNAKES?" 
Indiana Jones tornou-se uma obsessão. Vi o filme outras dez vezes só naquele cinema. Mais uma naquele ano quando fui com meu pai a Nova York e o filme estava passando no Ziegfeld Theatre(ou seria theater?).vi mais uma vez e ouvi coisas que eu nunca tinha ouvido antes(foi meu primeiro contato com um cinema com bom sistema de som). No meio da viagem, encntramos um VHS com um making of do Raiders of The Lost Ark. na ausência do próprio filme pra poder levar pra casa, pedi o vídeo de presente juntamente com um poster que hoje est´apendurado no meu escritório. Vi o making of mais vezes que o filme e uma seqüência me chamou particularmente a atenção: Spielberg dirigia Karen Allen na cena do campeonato de quem toma mais pinga no Nepal. Ele dizia a ela "Eu não quero perder o seu rosto em nenhum instante" e ainda dava mais algumas instruções sobre a postura da mão no ato vitorioso de engolir a pinga. Logo depois mostravam a cena completa e finalizada do filme.Ali eu vi o que significava direção e minha vida mudou pra sempre. 
Alguns anos mais tarde, vi no Cine Condor "Indiana Jones e a Última Cruzada". Àquelas alturas ir ao cinema jea era como ir a igreja. Como Indy como pastor a coisa sempre ficava mais séria, pois ele era o responsável pela minha conversão. Nos créditos finais, com os cavalos marchando contra o por do sol, derramei algumas lágrimas pensando que aquele seria o último sermão do Pastor Indiana. 
E agora, ainda outros anos depois - não importa dizer quantos - cá está ele em sua primeira foto oficial do novo filme. Algumas boas rugas a mais, mas o chapéu stetson e a camisa cáqui permanecem.
Ele mudou um pouquinho só. Eu creio que mudei muito mais. Pra melhor e pra pior. 
Numa quinta feira dessas, ainda pego uma sessão das 14h e vejo um filme pra mudar a minha vida mais uma vez. Talvez em 2008 quando Indy IV estrear. 

quarta-feira, 6 de junho de 2007

These are not Dolls... These are ACTION FIGURES!!!


Top shelf. Highest grades. Os melhores heróis de todos os tempos finalmente juntos. Isso sim é crossover.

i think...



"I think I'm gonna cry, but I'm gonna laugh about it all the time
I know I'm gonna cry, but I'm gonna laugh about it all the time"
Shopping Tolley, Beth Orton

imagem: Gene Hackman em The Royal Tenenbaums, filme que me mata cada vez que vejo. Tenho que escrever sobre ele ainda, mas a melancolia causada por uma nostalgia me impede de encontrar algo de racional a ser escrito. Talvez amanhã.

domingo, 3 de junho de 2007

Salve Santo Alfred!


Vamos rezar dez "Ave Grace Kellys", vinte "James Stewart Nosso" e quarenta "Salve Santo Alfred" nesta celebração de graças pela obra de David Fincher, "Zodiaco".
Esse camarada David é um sujeito muito bacana. Tinha tudo pra virar um Joel Schumacher da vida, mas permaneceu plenamente íntegro. Briguei por um bom tempo dizendo que "Alien 3" era melhor que "Aliens", depois veio "Seven" e o nome dele começou a ser cultuado. Com "Fight Club" ele voltou a ser maneirista, mas com um argumento que me fez tatuar o braço direito ele tinha desculpa pra fazer o que quisesse. O "Quarto do Pânico" foi um ótimo "curta metragem de duas horas" onde ele explicitamente (basta ver os créditos de abertura) contemplou o evangelho de Santo Alfred Hitchcock e entrou de vez para sua congregação.
"Zodíaco" era pra mim um dos filmes mais aguardados dos últimos tempos. Afinal, o diretor de Zeven estava retornando ao tema de assassinos seriais contando uma história ótima dos anais policiais americanos. O filme estreou nos EUA e recebeu boas críticas, mas sem muito alarde. Em Cannes foi a mesma coisa. Agora chegou a mim e eu digo que não é pra ficar quieto não! É o melhor filme que vejo no cinema desde O Labirinto do Fauno(que aliás comprei o dvd anteontem).
Vamos ao questionário:
Pergunta 1
- tem cenas que mostram sofisticação e crueldade nos assassinatos?
resposta: Não.
Pergunta 2
- tem cenas de ação e perseguição ao assassino com aquela musiquinha tradicional de percussão? Com edição rápida que quase não deixa nos ver o que está acontendo?
resposta: Não
Pergunta 3
- Tem interpretações de atores famosos dignas de Oscar?
resposta: Não, mas são interpretações geniais que jamais chegarão à compreensão da Academia.
Porra, o que é que tem então de tão maravilhoso nesse filme?!!!
Resposta: CINEMA! INVENÇÃO! ARTE!
As perguntas anteriores eu me fiz lá pela metade do filme e questionei como é que eu estava tão preso por aquela longa narrativa que parecia não ir a lugar nenhum. Quando terminou o filme, eu, em estado de graça, cntinuei tentando processar o que havia acontecido. Voltemos então a Hitchcock em sua estrutura tradicional narrativa: Ele faz com que o público saiba de algo que o protagonista não sabe e usa isso na construção da tensão. Hitchcock sempre manipulou as possibilidades de cumplicidade com a platéia. Fincher aprende isso direitinho e leva às últimas conseqüências. "Zodíaco" tem um "quase protagonista", mas que não dá pra dizer que é o "herói", que pra piorar não tem nenhum carisma (e não é pra ter mesmo), mas o filme faz com que companhemos tudo, tentando desvendar os mistérios e as pistas falsas colocadas seguidamente na narrativa. Nos flagramos no final do filme como detetives tão confusos quanto os da polícia de São Francisco. Resultado: HÁ SIM UM PROTAGONISTA EM "ZODIACO"! É O PRÓPRIO PÚBLICO!! O diretor nos faz sentir cúmplices, obsessivos, curiosos e testemunhas culposas de tudo o que acontece. Nós somos o principal detetive desta história, mas sem o compromisso bobo do "whodunnit?"(estrutura clássica que tem como resposta tradicional: "foi o mordomo"). Zodíaco não fala de assassinatos nem de crimes... não. Isso seria muito fácil. Ele fala de ações e reações humanas. Nenhuma delas muito digna, mas mesmo assim...humanas. E cada um dos atores deste elenco - que eu quero pra mim - contribui neste painel: Jake "Donnie Darko" Gyllenhall faz o cartunista bobão obcecado pela história do Zodíaco, Mark Ruffallo(um dos melhores atores da atualidade) o policial que vai... ah, eu não vou ficar descrevendo personagens aqui, não seria digno fazer isso para este filme, mas tenho que dizer que o elenco ainda tem: Robert Downey jr., Elias Koteas (Crash, do Cronenberg, please!), Chloe Sevigny e Anthony Edwards (daquele filme "Gotcha - uma arma do barulho", lembra? Se não lembra dá uma "googada" que vale a pena relembrar esta pérola dos anos 80)
Esse envolvimento por quase três horas (e eu não achei nenhuma brecha pra ir ao banheiro), a ausência da sedução por truques baratos, uma narrativa pela narrativa com resultados assutadoramente geniais faz de "Zodíaco" o melhor filme que vi este ano. Temos alguns meses pela frente, então espero que surjam outros ainda melhores, mas estou certo que com relação a linguagem narrativa, vai ser páreo duro.

sábado, 2 de junho de 2007

Espiar e Expiar


Gazeta do Povo, 02 de junho de 2007

PENSATA publicado na edição impressa de 02/06/2007

A arte se alimenta das falhas humanas
por PAULO BISCAIA FILHO*

Dez anos atrás, quando fizemos PeeP – Através dos Olhos de um Serial Killer (montagem de estréia da Vigor Mortis), escolhi o tema de assassinos seriais como uma ferramenta dramatúrgica ao Grand Guignol, a linguagem que leva o nome do famoso teatro de horror de Paris que criou pesadelos para as platéias da década de 20. Os medos possíveis no início do século vinte eram completamente diferentes dos medos de hoje. Vieram a Segunda Guerra e a Guerra Fria e as manifestações de medo e violência mudaram radicalmente os sentimentos de pavor de todo o mundo. Não que antes não houvesse maníacos assassinos, claro. Podem-se contar as barbáries de Elisabeth Bathory ou a casa de horrores de H.H. Holmes ou mesmo a pavorosa carta do lunático Albert Fish, na qual ele relatava com alguma poesia como matou e devorou uma menina de nove anos, com o detalhe que a carta foi enviada à mãe da garotinha. Isso sem falar em Febrônio Índio do Brasil, mas esse brasileiro, primeiro interno do Pinel, que matou diversas vítimas na década de 20, merece um texto à parte.

O medo grandguignolesque estava agora, portanto, não mais nos distantes campos de batalha ou em fantasias sobrenaturais. O grande terror estava na casa vizinha. Nos anos 50, um certo Ed Gein veio às manchetes de todos os jornais americanos e posteriormente motivou a criação de uma série de obras marcantes como Psicose, O Silêncio dos Inocentes, O Massacre da Serra Elétrica e alguns outros filmes e livros que usaram os atos de Gein como base para suas narrativas.

O que Gein fez foi lançar um terremoto na imagem de paz suburbana norte-americana. Sua comunidade no meio de Wisconsin, repleta de tortas de maçã e vizinhos sorridentes, considerava Gein um sujeito estranho, mas muito simpático. Até que foi descoberto em sua casa o cadáver de uma mulher, decapitado e pendurado de cabeça para baixo com as pernas abertas e um corte que ia da vagina ao esterno. Além disso, foram encontrados ali acessórios e vestimentas feitos com pele e ossos humanos que Gein ou arrancava de suas vítimas (oficialmente “apenas” duas) ou das dezenas de corpos que ele desenterrou do cemitério. Gein, um filho obcecado pela mãe, estava tentando se tornar ela mesma.

O que nos fascina nesses atos tenebrosos é ver o homem ultrapassando limites que julgamos moralmente intransponíveis. Quando o gângster de Chazz PalmIntieri em Tiros sobre a Broadway, de Woody Allen, é questionado por John Cusack sobre a imoralidade do fato de ter dado um tiro numa atriz só por que ela era ruim, o capanga responde: “O verdadeiro artista não tem moral!”. O assassino também não tem. Essa quebra de valores assusta, mas é socialmente necessária. Seria melhor que fosse apenas pela arte, mas a humanidade é muito mais rica e cruel do que qualquer obra de Pollock poderia criar. Aliás, a arte só consegue existir se puder se alimentar das falhas humanas.

Gein era o narrador/protagonista de PeeP, interpretado magistralmente na época pelo meu colega de 10 anos de companhia leandrodanielcolombo. Ele representava o homem aparentemente comum que entra em um furacão de valores sobre o olhar ao outro e ao mundo. No caminho de Gein, imagens e textos de outros assassinos tanto ou mais cruéis do que ele: Myra Hindley (que gravava o som de suas vítimas durante a tortura antes da morte), John Wayne Gacy (um comerciante e palhaço em festas beneficentes que guardava os corpos de suas vítimas sob o piso de sua casa), Jeffrey Dahmer (um solitário que matava homens e guardava partes de seus corpos em casa para lhe “fazer companhia”), entre outros. PeeP era uma viagem pelo inconsciente coletivo de mentes perturbadas. Um pesadelo dos bons valores em um redemoinho de mortes. Uma série de manifestações radicais de sentimentos humanos sendo expiados por atos monstruosos.

Este título, Peep, vem do inglês “espiar”, “dar uma espiadela”, como se faz em cabines de peep show. Um breve olhar sobre um universo de transgressões morais, sociais e sexuais que contemplamos apenas a distância. É como passar ao lado de um acidente de carro. Não queremos olhar, mas não agüentamos e damos uma olhada para satisfazer nossos desejos escondidos e nossa curiosidade sobre realidades distantes de nós, ou que pelo menos desejamos que permaneçam distantes. Estes filmes e peças são ambientes de pesadelo controlados. Um trem-fantasma aonde vamos experimentar um pouco de masoquismo, um pouco de sadismo e um pouco do que sabemos que jamais seremos capazes de fazer. Essa fascinação é eterna. Experimentamos – artistas e público – a fascinação por atos impensáveis. A visita “turística” a estes espaços ajuda até mesmo a manter nosso equilíbrio emocional se a obra sabe discutir o assunto adequadamente. Todos precisam desse equilíbrio. É por isso que matamos pessoas na Vigor Mortis diariamente. No palco, é claro!!!

* Professor da Faculdade de Artes do Paraná e diretor da Vigor Mortis, companhia teatral produtora de Morgue Story, Graphic, Garotas Vampiras Nunca Bebem Vinho, entre outras.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

dois lados e um freak show


Graphic acabou no CCBB. Se por um lado eu me sinto com um buraco no peito, por outro lado estou bem mais leve.(buracos no corpo por lógica nos aliviam de pesos, right?)

Foram sete semanas que por um lado pareceram infindáveis, por outro parece que estreamos na semana passada.

Não quero me repetir, mas terei de dizer: Esse lugar aqui é um show de aberrações à beira do mar. E nós fomos mais uns freaks desse espetáculo por sessenta dias...e ainda gostamos disso. Agora só restam lembranças dessa meia dúzia de monstros com rombos no corpo.

"Then i painted your face
On a twenty dollar bill
But it isn't legal tender
And i think about you still
And all the comfort in words
Provide no comfort
We can all go mad together
That's what friends are for

And at the sideshow by the seashore
The girls are dressed as mermaids
An electrical storm has caught us in a trap
Maybe if i yell at you
You'll trust in what i'm sayin'
But i'm keepin' all the secrets
And i have nothing else to say"
Luna

Mas daqui a pouco tá de volta. começar pelo filo ( www.filo.art.br )

domingo, 20 de maio de 2007

to G.

Uma consideração aos sonhos despertos. Sonhos que tive ontem criados por aquele que talvez seja o maior self-exorcist de todos. Sem exagero. Aqui vai um longo telegrama a ele:
------------------------
G,

Stanley Kubrick recebeu um telegrama de um outro cineasta - não me lembro exatamente quem, acho que era o Zefirelli - que comentou sobre sua experiência ao ver "2001 - A Space Odyssey" em uma frase: "You made me dream eyes wide open". Sem nenhum trocadilho com o canto do cisne(já vou falar de cisnes de novo) do Kubrick, foi exatamente esta a sensação que tive ontem ao ver "Terra em Trânsito/Queen Liar".

Não via uma peça da Dry Opera desde "Coro e Camarim" e "Ventriloquist" e foi genial ter reencontro de amigos. Aliás, é exatamente isso a experiência com "Terra em trânsito", primeira parte do programa. É a tua voz, mas pela voz e corpo da Fabi. Fato que em si já é impressionante. Vê-la em cena nos causa uma das impressões mais maravilhosas do teatro: estar ali vendo aquela performance brilhante ao vivo em uma sala com pouco mais de 100 pessoas. Nos dá a idéia de raridade. De que nós do público somos realmente privilegiados por estarmos ali presenciando o trabalho aqui-agora de uma atriz que encontra verdade plena em cada gesto e palavra. Vamos admitir. O texto oferecido aos atores não é dos mais gentis. Um ataque verborrágico que etá mais para uma crônica - com a fúria de artaud e as referências de um Bloom - do que para texto de teatro. E até seria um texto duro e literário, não soubesse o autor que ele iria para a boca da Fabi e ela consegue dar verdade dramática a cada vígula. Verdade mesmo, i.e.: a verdade humana da palavra.

Com essa sonoridade e drama estabelecidos, o que resta é apreciar as palavra com ainda mais sabor. Ri muito com as brincadeiras feitas com Sarah Kane, Harold Pinter e Bruno Ganz. Um riso do humor de trocadilhos.. de Monty Python... de Gerald Thomas.

O espetáculo segue e a platéia está continuamente tentando desvendar os signos em cena. Até que no final, surge um texto que manda essas leituras semióticas à merda. Claro que é uma provocação. Mas um "Parem de ficar tentando ler símbolos e signos e comecem a ver a peça!!!"(não com essas palavras) é jogado no público. Ele está certo. Devemos indubitavelmente saber se estamos grávidos de Tony Blair, mas devemos antes de qualquer coisa estar abertos a arte ali presente.

Poderia ficar outras dez páginas falando sobre o Cisne judeu com o fígado prometido a Strasbourg e sua cabeça fadada ao lixo, mas tenho que seguir ao "Rainha Mentira"

Muitos críticos e conhecdos me advertiram sobre esta ser "menor que a "Terra.."" .
Menor é o caraleo !!!
Gerald, você agora é a sua própria diva wagneriana com sua voz dublada por todos os atores/personagens. Se antes ouvia a tua voz pela voz da Fabi, agora estava explícito como numa opera seca direta ao público.
E que cenas lindas! A queima-de-livros-nazista/WTC-waiting-to-comedown é uma imagem que jamais sairá da minha mente. Mas não é so isso. Como sempre, Gerald, você se expõe. Essa é a tua arte. Sempre foi esse o caminho e você está escolhendo novas maneiras de percorrê-lo. Nunca se deixa levar pelo mais confortável. Sempre se coloca à beira de um abismo sem ter asas nem cordas... apenas confiando que a queda não será mortal, apenas muito, muito dolorida.

Lembro com muito carinho das converas que tivemos comendo um cachorro quente do Au-Au. E lembro com agradecimento da tua ligação de NY quando meu pai morreu. Ontem eu tive a impressão de estar lá conversando, rindo e discutindo contigo e depois te fazendo uma ligação que nunca fiz na hora certa pra poder te retribuir o carinho.

Ao final de "Rainha Mentira" eu estava aos prantos. E não é só pelos motivos acima. A razão principal é essa: Diretores surgem e desaparecem como a moda dita e a obra de Gerald Thomas nunca deixará de ser pertinente (fazendo uma referência ao Cisne) por que ela pode parecer a alguns absurda, desconexa e hermética, MAS NÃO É!!! É acima de tudo HUMANA!!!! Mais humana do que pelo menos 90% do teatro que se produz hoje. Tua expressão, Gerald, vibra aos corações e às mentes feito diapasão. Isso se faz com idéias e emoções vivas e você as tem como muitidões dentro de si. É por isso que quando você é um encenador de si mesmo, está encenando também a toda a humanidade.

Vou parar de escrever que se eu lembrar mais vou fazer papelão aqui e voltar a chorar.

Obrigado Fabi pelo convite e um obrigado ainda maior pela tua verdade de atriz.

Obrigado Gerald. Quando trabalhei contigo tive um time of my life. I've moved on quite a bit since. Desde então achei minha própria voz, mas só pude fazer isso depois de muito ouvir a tua e depois ainda tirá-la de mim. Ontem te ouvi de novo. Estava com saudades disso. Já estou com saudades de volta.

LOVE.

P.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

City of Dreams


Demônios vâo e demônios vêm. Aqui estão eles de volta quase dois meses depois. Mais famintos que nunca. Ainda mais sedentos por uma boa briga com o Exorcista de Si Mesmo. Então... this is your first night at the fight club. You have to fight.

Dizem que só conhecemos amigos no inverno, pois a verdade é que eles são ainda mais transparentes no verão. Nesta Baía de Guanabara é sempre verão. Um verão que cansa. Será que as pessoas daqui conhecem lã, camurça ou outras maravilhas da indústria têxtil? Deixa pra lá. Não vou inventar uma teoria de que a alegria só é possível se estiver coberta de lã.

Minha relação com essa cidade é de uma ambigüidade atroz. Olho para o mar de cima de minha amada neguinha(uma linda beach- bike preta) e acho tudo lindo de doer. O caminho de Copacabana ao Leblon desviando pela Lagoa é de morrer de bacana. Mas quando desço de minhas duas rodas, vejo uma realidade infestada de imaginários. Isso aqui é Los Angeles. É Hollywood mas com muito - muito mesmo - menos glamour. Estou numa Mullholland Drive periférica. Ainda assim a Cidade dos Sonhos.. mas dos sonhos pequenos. E não suporto esse tipo de sonho. Muito pouco daqui é real. Nem mesmo a Naomi Watts seria tão influenciável.

Quero acordar deste sonho e fazer com que todos os personagens dele também acordem. Mas o sonho tem sua parte boa. Então vamos dormir mais um pouco. Pelo menos até o despertador tocar desesperado como que se arrependendo pelas horas desperdiçadas de sono.

Todos os dias, antes de começar a peça enquanto o público está entrando, toca no Teatro III uma música que não poderia ser mais apropriada ao momento e local:

"We live in the city of dreams
We drive on this highway of fire
Should we awake and find it gone, remember this our favorite town"
Talking Heads

A cidade favorita é a que não foi inventada. A não ser em nossos sonhos. Só que sonhos daqueles que temos quando dormimos. Não desse tipo aqui.

Dois demônios pequenos mortos hoje.

sábado, 31 de março de 2007

Happy Happy Joy Joy



mas isso é só o começo. Graphic estréia dia 12 de abril no Teatro III do CCBB RJ

segunda-feira, 26 de março de 2007

"The deed is done"


Adoro a sonoridade desta frase, dita em Macbeth logo depois do assassinato do rei. "A tarefa está feita".
Duas apresentações lotadas e maravilhosas de "Graphic" e " Garotas Vampiras" crescendo, ficando cada vez mais preciso e empolgante. Como não considero que Garotas esteja realmente no FTC, mas sim em uma bela temporada em março, então é o fim do festival pra mim. Chega de Festival. E não é só pra esse ano, mas isso é otra conversa.
Agora sou público!!! Ah, as delícias de ser platéia... que venham a mim...

terça-feira, 20 de março de 2007

Sem Vergonha!!


Como é bom ser um sem vergonha desses.
Peter Baiestorf é um sujeito de Palmitos, Santa Catarina, que há anos vem produzindo pequenas pérolas do audiovisual brasileiro com sua produtora Canibal Filmes. Alguns destes exemplares são: "Gore Gore Gay", " O Monstro Legume do Espaço", etc...
Ele faz o que ele quer, do jeito que ele quer(e do jeito que pode) e é um verdadeiro punk-metal cinematográfico. Seus mais de 100 filmes foram produzidos em VHS e venderam à beça pelo correio. Se isso não é uma verdadeira lição para quem fica se ensebando dizendo " Eu queria fazer um filme, mas nnao tenhho verba", nnao sei o que é. Quem diz isso é "full of shit". É falta de coragem e excesso de vergonha.
Até mesmo David Lynch com seu novo "Inland Empire" pegou uma dv-cam PD150 e saiu produzindo e distribuindo praticamente sozinho. É por isso que eu adoro esses sem vergonhas. Eu invejo esses sem vergonhas, pois ainda tenho alguma vergonha na cara e estou tentando me livrar dela dia após dia.
John Waters, Ed Wood, Fred Olen Ray, Sam Raimi(por seus evil dead), Ted V. Mikels, Paul Morrissey, Russ Meyer... Peter Baiestorf e outros ainda. Obrigado por serem tão maravilhoamente despudorados. Vocês são a escória da humanidade e eu os saúdo por isso.
Um documentário meia boca, mas perfeitamente à altura da filmografia de Baiestorf, está disponível no site da Mostra Filme Livre. Vale a pena ver: http://mfl.curtaocurta.com.br/videos/122/

domingo, 18 de março de 2007

Road to nowhere



"There's a city in my mind
Come along and take that ride
and it's all right, baby, it's all right

And it's very far away
But it's growing day by day
And it's all right, baby, it's all right"
Talking Heads


"Graphic" entra em cartaz por apenas dois dias neste Festivald e Teatro. dias 24 e 25 às 22h no teatro josé maria santos.

Tem muita coisa a falar sobre essa peça que foi um auto exorcismo por si só, mas acho que eu preferiria desenhar sobre ela. Só que eu não sei desenhar. Então deixo para o José Aguiar, DW, Cláudio, Olho e Juan fazerem isso.

Outra saída seria interpretá-la, mas a Rafa, Dani e Carol(como eu amo esses seres!!) já fazem isso maravilhosamente. Graphic já tem vida própria.

Quando isso acontece, o diretor/autor fica maravilhosamente desnecessário.

Tá bom, quase desnecessário...
falerei mais dela outro dia.

p.s.: e antes ainda tem GAROTAS VAMPIRAS NUNCA BEBEM VINHO!!! Estréia na quarta no 92 graus!

quinta-feira, 15 de março de 2007

Brother


Não tenho irmãos de sangue. Duas irmãs maravilhosas, mas nada de irmãos. Pra piorar sou caçula e temporão.
Isso é o que diz a ciência e os registros em cartório. Só que há pouco mais de dez anos tudo isso mudou. Ganhei um irmão. Irmão de verdade.

Em 2003 escrevi no texto "Moby Dick e Ahab na Terra do Sol":
" Lembra daquele vídeo que a gente fez junto que era a história do Febrônio Índio do Brasil? Você estava com o cabelo bem comprido na época. Aquilo foi a coisa mais enlouquecida e irresponsável que a gente tinha feito junto... (engasga coma saliva) Nem naquela época a gente se desentendeu. Ele era meu irmão. Quando você me deu o fora, ele me deu apoio, mas te defendia ao mesmo tempo. Eu odiava aquilo na época. Eu nunca soube direito o que pensar nas horas que eu precisava. Se eu consegui alguma coisa na vida, foi por que ele me botava o pé no chão."

Esse meu irmão interpretou esse texto. Ele sabe bem que interpretou o texto que eu diria pra ele. Mesmo assim é muito pouco perto do que eu poderia dizer a ele.

E quando eu o chamo de irmão e não só de amigo, é porque amigos podem passar, mas irmão é um troço que a gente tem pra toda a vida.

feliz aniversário, dani.

domingo, 11 de março de 2007

Alone


Faço minhas as suas palavras, caro Edgar, o maior "self exorcist" de todos os tempos!

"From childhood's hour I have not been
As others were; I have not seen
As others saw; I could not bring
My passions from a common spring.
From the same source I have not taken
My sorrow; I could not awaken
My heart to joy at the same tone;
And all I loved, I loved alone.
Then–in my childhood, in the dawn
Of a most stormy life–was drawn
From every depth of good and ill
The mystery which binds me still:
From the torrent, or the fountain,
From the red cliff of the mountain,
From the sun that round me rolled
In its autumn tint of gold,
From the lightning in the sky
As it passed me flying by,
From the thunder and the storm,
And the cloud that took the form
(When the rest of Heaven was blue)
Of a demon in my view"

"Alone", Edgar Allan Poe

tradução livre e rápida:

"Na infância, não fui como os outros
e nunca vi como outros viam.
Não podia tirar minhas paixões
da mesma fonte que a deles;
e era outra a origem da tristeza,
e era outro o canto, que acordava
o coração para a alegria.
Tudo que amei, amei sozinho.
Assim na minha infância, na alvorada
da tormentosa vida, ergueu-se,
no bem, no mal, de cada abismo,
a encadear-me, o meu mistério.
Veio da correnteza, veio da fonte,
da rubra escarpa da montanha,
do sol, que me envolvia inteiro
em outonais clarões dourados;
e dos relâmpagos luminosos
que passou logo ao meu lado
e do trovão, da tempestade,
daquela nuvem que se formava,
(Quando o resto do céu era azul)
como um demônio, ante meus olhos."

Se eu já não fosse solitário assim, eu precisaria ser.

sexta-feira, 9 de março de 2007

Who watches the Watchmen?


Eu "watcho" os watchmen com certeza! Faz quase 20 anos que eu tô esperando por esse filme.
PQP!!! Que maravilha ver o Rorschach ao vivo e segurando o smiley do Comediante!!!
Invejo esse diretor Zack Snyder. Ele está fazendo o Hamlet dos quadrinhos no cinema.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Peguei!


Só pra constar mais uma letra do Cure do mesmo álbum de Just Like Heaven. Tinha esquecido como era bom esse disco.
Sing along!!

Catch

Yeah I know who you remind me of
A girl I think I used to know
Yeah I'd see her when the days got colder
On those days when it felt like snow

You know I even think that she stared like you
She used to just stand there and stare
And roll her eyes right up to heaven
And make like I just wasn't there

And she used to fall down a lot
That girl was always falling
Again and again
And I used to sometimes try to catch her
But never even caught her name

And sometimes we would spend the night
Just rolling about on the floor
And I remember even though it felt soft at the time
I always used to wake up sore...

You know I even think that she smiled like you
She used to just stand there and smile
And her eyes would go all sort of far away
And stay like that for quite a while

And I remember she used to fall down a lot
That girl was always falling
Again and again
And I used to sometimes try to catch her
But never even caught her name

Yeah I sometimes even tried to catch her
But never even caught her name

domingo, 4 de março de 2007

Paradise Lost


"New York City, I was born and raised... and I threw it away.
Nothing to do, but play guitar all day... and I threw it away.
I threw it away to ride horses
But I had to giv'em up eventually.
And I never ever thought it could happen
But you know those horses they were riding me"
Dean and Britta, " Threw it Away"

Umas semanas atrás eu estava vendo meu evento esportivo anual favorito: o Rio Vert Jam, tradicional campeonato de skate que traz entre outros: Sandro Dias(novecentos! novecentos!), Lincoln Ueda (é lindo ver o " japonês voador"!!!!) e o conhecido Bob Burnquist. Este último, em sua segunda volta levou um tombo feio. Levantando devagar, sentindo dores pelo corpo, foi já abordado por um repórter que perguntou ao bicampeão do Vert Jam: "Bob, na terceira volta você vai tentar o tricampeonato?". Bob respondeu gemendo um pouco de dor: "Não, não tem essa. Eu quero é andar de skate."

Ele não se importava com a dor e não se importava com a vitória. Burnquist mantinha a vontade adolescente que o fez querer andar de skate desde o início.

É apenas isso que quero com a Vigor Mortis. Poder "Andar de skate" ou "Play guitar all day" .
Espero ter o discernimento para não me perder e jogar tudo fora "em cavalos".

Exorcismo feito!!!

sexta-feira, 2 de março de 2007

"Raf - Por que é que você não pega esse trabalho?
Artie - Como assim? Eu já tenho um trabalho.
Raf - Paga menos que o seu trabalho?
Artie - Não sei. Por que? "
Graphic (2006/2007)

Estou aqui re-autorando DVDs por uns trocos. Não é um trabalh totalmente ruim, mas eu queria estar editando Garotas Vampiras, adaptando contos de Poe, escrevendo Vegas Rock...

Me falta mais um Leap of Faith.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Leap of Faith


Peço perdão pela barata filosofia cristã-cinematográfica.
Em "Indiana Jones e a última Cruzada" a provação final de Indy antes de chegar ao Graal é dar o seu "leap of faith", um salto de fé. Ele vê uma porta do outro lado de um penhasco que parece sem fundo e a solução é "simplesmente" ter fé no seu salto que ele chegará do outro lado. Medo. Relutância. Fé. E ele dá o passo sobre o nada. Havia uma ponte ali que, por uma ilusão de ótica de quem só olha para outro lado e para o vertiginoso penhasco, parecia não estar, mas ESTAVA ALI o tempo todo.
De vez em quando, nos borramos diante desses penhascos e temos que dar um leap of faith. Dá um cagaço, mas o Graal e a vida eterna estão do outro lado. Portanto...
Eu já dei uns 5 desses. Sei que vou ter que dar mais alguns. Espero não cair no penhasco por excesso de fé na próxima.

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Academy Award Winner


Então é claro que vamos ver o Oscar hoje.
Seja pra torcer pela justiça tardia ao Scorsese, pela família da Miss Sunshine, simplesmente para ver os artistas e sua fashion attitude ou ainda para se projetar ali sonhando em estar recebendo o prêmio um dia. Ah... vai que você nunca pensou nisso!! Nunca começou a ensaiar seu discurso no espelho do banheiro? Jogue a primeira pedra! Se você não fez isso, deixe de ser uma pesoa chata! faça agora mesmo. Páre de ler isso aqui e trate de ir agradecer e se possível até chorar. É divertido.
De minha parte, estou na verdade preocupado com a vitória dos prêmios técnicos do Labirinto do Fauno (melhor filme do ano pra mim!) do que nos prêmios principais que são meio barbada. Helen Mirren, Forest Whitaker e Scorsese já separaram lugar na lareira de casa. Resta saber do resto.
O primeiro Oscar que eu vi "quase" inteiro, foi o do ano do E.T. e até hoje não entendi o que foi aquele Ghandi que ganhou melhor filme. Passado todo esse tempo, vendo oscars anualmente, a coisa fica meio repetitiva e sabemos que muitos daqueles filmes e pessoas ali vão desaparecer. Alguém aí viu "Tender Mercies" pelo qual Robert Duvall ganhou prêmio de melhor ator? Alguém aí tem "Laços de Ternura"(melhor filme de 83) na sua coleção de DVDs?
Não poderia fechar esse post sem uma citação. Em 1981, quando " O Homem Elefante" do nosso amigo David Lynch, concorreu a 8 estatuetas e não ganhou nenhuma. No dia seguinte da premiação o produtor do filme, um certo Mel Brooks(esse mesmo), foi indagado por jornalistas se ele estava triste com a perda nos Oscars. Brooks resppondeu que não, pois acreditava firmemente que "'Gente como a Gente'(vencedor de melhor filme naquele ano) seria em 10 anos resposta para uma trivia do Oscar. Enquanto que " O Homem Elefante" seria o filme que as pessoas estariam vendo". Dito e feito.
O Oscar não mede nada de qualidade, blá, blá, blá.... não vou repetir esse disco, mas é verdade. Assim como é verdade que a gente ADORA torcer, anyway.
Gostamos e precisamos de ídolos. Os ícones religiosos de hoje são as figuras de Hollywoood. Mesmo que a gente esqueça deles amanhã, pelo menos por um dia, vamos adorar estar a seus pés.
E eles serão felizes para os resto da vida vendo trailers que anunciam seus nomes como "Fulano de Tal, Academy Award Winner".
Tomara que o Guillermo del Toro seja um deles, porque eu venero o "evangelho" que ele criou com o seu Fauno.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Age of Consent

"Won't you please let me go / These words lie inside they hurt me so
(...)
And I'm not the kind that likes to tell you / Just what you want me to / You're not the kind that needs to tell me / About the birds and the bees
(...)
I've lost you, I've lost you, I've lost you, I've lost you, I've lost you..."

A imagem é de "Rushmore" de Wes Anderson, mas comentários sobre o filme ficam para outro post. Na verdade, esta música já fala muito e nem vale a pena colocar uma imagem aqui ou escrever muito.

New Order imprime de forma supreendente alegria extrema em versos sobre perda.

Não é de estranhar tanto. Em alguns casos, razoavelmente raros, a perda pode ser motivo de regozijo.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Homem sem talento

Aqui vai uma mini peça ou um grande solilóquio que escrevi em 2002 para jamais ser publicado ou encenado. Os tempos eram outros, os demônios eram diferentes, mas não muito.

Homem sem talento - Sou eu sim. Sou eu quem vocês estavam procurando. Não deu muito trabalho, eu sei. Mas eu tentei me esconder. Juro. Sem querer ser cínico, mas tenho que dar os parabéns pela sua investigação e busca. Nunca vi uma operação com tantas pessoas. É uma pena que nenhum jornal queira publicar captura e execução. É sempre assim, matéria de capa quando alguém comete um crime e, com alguma sorte, uma pequena nota quando o criminoso é executado
Mas agora vou dar um motivo para que eles mudem de idéia. Pode ser que não adiante nada, mas eu tentei, como tudo na minha breve existência neste deprimente reino encantado.
Vou confessar tudo, e vocês vão adorar que eu confessei. Era o que vocês queriam, não era? Vou dar isso de presente pra vocês. Mesmo sem colocar nenhum dedo em mim, já digo que chega! - a tortura já foi demais. Eu não posso agüentar nem mais uma palavra, então, podem ficar descansados. Eu confesso: sou eu mesmo. Eu sou um homem sem talento.
Fui abençoado, ou amaldiçoado, não sei dizer a diferença, apenas com a ilusão de ter algum dom. Ainda sofro deste mal. Mesmo quando vocês estiverem prestes a me guilhotinar, estarei com essa idéia fixa. Apesar de confessar, sou insano demais para reconhecer meu crime, porque não o vejo. Foi esta a minha falha sempre... desde o início. Fui um louco em não ver isso. E ainda sou. Então sei que cometi um crime porque vocês não param de dizer isso. Portanto passa a a ser verdade. Para dar ainda mais credibilidade, isso ficou escrito. Eu, e apenas eu na minha loucura, sei que é mentira, mas isso não interessa. Afinal, eu falei que era louco, e isso não passa de um devaneio.
Vocês não se cansam de endeusar Kafka e seu Joseph K.. O próprio Kafka nem queria ser endeusado, pra início de conversa. Ele queria ser, e era, Joseph K.. Isso todo mundo parece saber, mas não entende. Eu entendo. E é por isso que não quero endeusar Kafka. Por que ele ficou na mesma merda que eu estou agora. A merda dos fracassados. Vocês adoram dizer que o Joseph K. é um pobrezinho, "olhem, o sistema está esmagando Joseph K.. temos que fazer alguma coisa". E fazem, vocês fazem o papel do sistema, só que hipócrita, por que falam que pessoas como Kafka eram coitadinhos geniais. Eu não. Não sou coitadinho e muito menos genial. Kafka iria me adorar, iria me endeusar.
É por isso que, na minha loucura, eu não quero inverter esta situação aqui. Eu não quero que vocês morram. Não, eu quero que vocês existam. É preciso que vocês existam. Só peço que me deixem existir também. Que vergonha... estou aqui ... me humilhando. Também que se foda, não me custa nada me humilhar. Aliás, não adianta nada também, mas eu quero. Quero descer mais, quero chegar no fundo do poço e lá cavar minha própria cova. "Famous last words..." não é assim que dizem? Só espero que eu não fique apenas na categoria de "last words". Mas é o que vai acontecer, já não tem mais remédio.
Não tenho mais esperanças. Posso até tentar me conformar com as histórias de vidas como a de Edgar Allan Poe, que morreu na merda, de Van Gogh que morreu na merda, de Orson Welles, que não morreu tanto na merda, mas era alguma merda mesmo assim. Não, eu olho para mim mesmo e não tenho esperança nenhuma. Meu legado será a merda, morrerei na merda, ponto final.
Eu estou divertindo vocês o suficiente? Poderia ser mais engraçado? Perdão, nem essa capacidade eu tenho. Lembrem-se, sou um homem sem talento, portanto vocês podem até gostar deste meu longo epitáfio, que antes de ser escrito já está coberto de musgo. Mas vão achar chato e sem graça, porque eu não tenho talento, não se esqueçam. Foram vocês que falaram isso. Então tenham pelo menos a decência de serem coerentes.
A essas horas, depois de tudo o que falei, alguém de vocês já deve estar pensando: "não, não é bem assim, a gente nunca achou que ele não tinha talento", e completarão com alguma frase que seja pior do que não ter talento. Alguma gracinha, algo "talentosamente" engraçado e todos rirão sem culpa. Por favor, não me entendam mal, em nenhum momento quis jogar a culpa sobre vocês. Não importa o que eu diga, nada vai evitar os comentários maldosos que se seguirão, então não tentarei lhes convencer do contrário. Aceito todas as acusações que quiserem impor sobre mim. Digam o que quiserem, eu aceito. Minha loucura não me permite concordar sinceramente com nenhuma de suas gracinhas talentosas, mas aceito, porque não preciso saber o que você pensam. Estou condenado e isso me basta. Para um condenado, não importa qual a acusação, importa apenas o fato de que ele foi condenado. E esse sou eu.
Pronto. Já confessei. Espero que vocês tenham gostado. Espero ter trazido algum alívio. Algum prazer. Como? Mais prazer ainda? Tudo bem, repito a frase que vocês mais adoraram: Sou um homem sem talento. Gostaram? Eu fui o mico de circo que vocês queriam? Pedem para que eu faça alguma gracinha e eu, pronto para atender, faço. Mas só vou fazer isso uma vez. Se eu atender a mais um pedido seu, passarei a ter um pingo de talento. E ninguém aqui quer isso, quer?
Não sou seu palhaço. Um palhaço teria algum talento. E além do mais, alguém ser palhaço de alguém é uma mera questão de ponto de vista.
Agora, já basta. Podem me levar para a guilhotina. Mas por favor, prestem muita atenção no resultado da minha decapitação, pois vocês estarão vendo minha cabeça se transformar num corpo independente, livre. Por essa ironia eu lhes agradeço, pois ela me serve de cura para insanidade.
Como condenado, tenho direito a um último pedido? Não? Era de se esperar. Tudo bem. Já tenho agora tudo o que preciso.
Deixem-me então olhar para vocês uma última vez,e, por favor, não desviem seus olhares. Continuem me encarando, me intimidando. Eu gosto disso agora. ... Mais uma vez obrigado. Vocês estavam certos sobre mim. Mas eu estou feliz. Estou orgulhoso de mim mesmo por ser esse homem sem o talento que vocês exigiam. Depois de tudo o que foi dito, estou certo que uma cabeça vai rolar: a minha. E eu não dou a mínima.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Confrontos


" I Know karate, voodoo too!"
Tom Waits, 'Goin' Out West'

Peguei minha bicicleta para uma boa volta. Fones no ouvido e Berotec na bolsa, enfrento a ciclovia do parque. Empolgado com a música vou pedalando e me sentindo como no River Raid quando empurrava o joystick pra frente.
Um kilômetro de caminho e eu vejo uma menina em sua bicicleta vermelha. As rodinhas deviam ter sido tiradas neste verão. Ela olhou pra mim e assustou-se. Não sei ser era por meu ritimo de pedaladas violento e orangotânguico, motivado pelo Tom Waits nos fones, ou por aparência pouco típica para o lugar, com minha camiseta preta do eXistenZ com a cara do Cronenberg. A poucos metros de nossa colisão(impossível para mim, mas eminente para ela), a menina desviou a bicicleta em direção a pista de cooper, mas o caminho de grama entre um e outro era íngreme e ela viu seu bólido carmim descontrolar-se. O rosto que antes era de susto para mim transformou-se agora em pânico. Um desespero muito sutil que se percebia apenas por uma alteração nos músculos em volta do olho, mas que definitivamente estava lá. Apesar da desesperança, a menina bravamente controlou a bicicleta até a outra pista.

No final de minha volta pelo parque, olhei para o lado e vi uma íngreme descida de grama de 2 metros. Tive um desejo louco de descer, mas segui reto.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Saber que foi amado



"Knowing You Were Loved/wasn't that the best thing that you ever had?/Knowing You Were Loved/Trade away your loneliness/You thought, you could never die."
The Apartments.

O amor é a ilusão da eternidade. Trocamos nossa solidão por qualquer outra coisa, mesmo que seja por uma mentira.
Nossa necessidade por "ser amado" nos desvirtua de qualquer linha de raciocínio, mesmo quando raciocinamos e conseguimos ter discernimento de tudo, mas não conseguimos AGIR COM discernimento.

É sobre isso - PERDA DE DISCERNIMENTO - que tento falar em "PINCÉIS E FACAS", em cartaz no Teatro José Maria Santos até o dia 25/02.

São quatro imagens desta perda.
A mulher "historicamente insignificante" que tem um caso com o marido da irmã famosa no intuito de tanger - nem que seja por um segundo - a grandeza e a atenção que ela inveja.
A socialite que perde o marido e vê sua vida desmoronar por ilusões da continuidade da imagem que o falecido tinha dela.
O amolador de facas que, mesmo sabendo que o Dia dos Mortos mexicano é apenas uma metáfora para o retorno de entes queridos, espera a volta do espírito de sua mulher como solução para a redenção de seus erros.
O guerrilheiro que vive no passado de algo que ele julga ter construído para seu país, quando na verdade lhe faltou construir a si mesmo, e sua mulher que - esta sim, mais do que qualquer outro - trocou a sua solidão pela ilusão de ser amada.

Nota extra: quando Karla Fragoso me convidou para fazer uma peça sobre Frida Kahlo, relutei por não me sentir jamais cativado pela obra(e tampouco pela biografia) da pintora. No entanto, como foi a primeira vez que me chamaram para dirigir um projeto que não fora inicialmente idealizado por mim, aceitei na esperança de encontrar algo que me empolgasse.

É preciso tempo para encontrar paixão(real ou ilusória) num projeto, mesmo aqueles que eu crio "da capo", ainda mais neste caso. Ontem, no meio da segunda temporada da peça, apaixonei-me de vez pela montagem. Talvez tarde demais, mas o fato é que vi as peças do quebra-cabeça que eu mesmo recortei se encaixarem de vez. Não há nada mais emocionante para um diretor/autor ver o que começou do nada(um arquivo em branco no processador de texto apenas com o nome pinceisefacas.doc) tomar vida e com FORÇA! Ver o elenco com propriedade plena do texto e de seus personagens, lhes dando mais do que interpretação. Lhes dando carne.

"Carne é carne", diz Ximena(Rafaella Marques) para o amolador de facas(em uma das minhas frases favoritas da peça). Ela tenta banalizar o corpo, que já estava antes banalizado por seu passado como prostituta, assim se iludindo de novo e de novo sobre sua insignificância. "Se eu for insignificante," - segue seu raciocínio ilusório - "nada de mal que me acontece tem importância, afinal, sou pequena demais". Em outra cena mais adiante, o marido ex-guerrilheiro retruca: "Cada homem tem a sua importância!", lembrando de cada vida que tirou e viu ser tirada em batalha. "Chega, Guillermo, venha para a cama", implora Ximena usando inutilmente o sexo como instrumento de fuga, mas a realidade é que o homem em sua cama É a realidade. Carne não é apenas carne mais. É a SUA PRÓPRIA carne agora.

Mesmo tendo começado de um jeito meio torto, creio firmemente que "Pincéis e Facas" é uma das peças mais representativas que já fiz. Jamais por Frida Kahlo, claro, mas por seus personagens inventados em ilusão por mim(com a ajuda de Frida, claro...) e transformados em realidade por um elenco maravilhoso que eu tenho vontade de abraçar e beijar agora mesmo.

Obrigado pela genial luz da gloriosa Dani Régis. Obrigado Chico, Marcel, Renata, Fabiana, Marcinho, Dalvin, Guilherme, Leandro... e principalmente:
Obrigado Dani, por sua constante inquietude de ator que te faz ser cada vez maior. Você é meu irmão e tem meu amor eterno.
Obrigado Fabiano, por ter encontrado sua inquietude nessa peça e tê-la usado lindamente.
Obrigado Marci, por saber que tem que dar um "pau na zorba" no texto.
Obrigado Sidy, obrigado mesmo pela prontidão, pela podrice e pela "língua de gordo"
Obrigado Karla, Obrigado Karla, Obrigado mil vezes. Por seu olhar "no retrato" e por ter me dado essa chance. E por ser incrível, claro!!!!
Obrigado Rafa. Estou vendo você ser uma atriz cada vez mais linda(em todos os sentidos!) a cada dia que passa. Te agradeço por permitir esse testemunho. Love you, little sis, more than you know.

Neste momento me arrepio e quase - apenas quase - derramo uma lágrima lembrando de cenas da peça. Talvez essa paixão seja real... o que me desmente de tudo que escrevi acima. Não importa. Preciso disso, nem que seja ilusão.

O que resta agora é compartilhar isso com o público. Enjoy. Cheers.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Be afraid. Be very afraid.



"A Mosca" é até hoje o maior sucesso do meu ídolo David Cronenberg. Um filme que celebra tudo o que hea de melhor na narrativa fantástica e conto gótico: terror e sexo, imagens repulsivas e metáforas, personagens perturbados, etc...
O conflito de Seth Brundle que vai se tranformando em mosca(uma representação acelerada da decomposição do corpo diante do envelhecimeto.) e vendo seus valores, amores.. e dentes se perderem dão certamente manga para um belo libreto de ópera... mas... putz... será???

Enfim, tem tudo pra dar errado, mas mesmo assim ... PRECISO VER ISSO!!!!

17/02/2007 - 13h24
Terror "A Mosca" vira ópera nas mãos de Plácido Domingo
da Efe, em Paris

O tenor e diretor de orquestra Plácido Domingo e o diretor do Teatro do Châtelet, Jean-Luc Choplin, anunciaram a estréia da versão em ópera do terror "A Mosca", com música de Howard Shore.
A nova ópera terá a versão cênica a cargo do canadense David Cronenberg, que levou ao cinema um filme de ficção cientifica e de terror com o mesmo título.
Domingo dirigirá a orquestra deste "sonho" musical de Shore, compositor da trilogia de "O Senhor dos Anéis" (2001-2003), "O Silêncio dos Inocentes" (1991) e "Os Infiltrados" (2006).
A estréia mundial da obra está prevista para 1º de julho de 2008, no Teatro do Châtelet, em Paris, e dois meses depois, em 7 de setembro, na Ópera de Los Angeles, que é dirigida por Plácido Domingo.
A idéia de encenar a tragédia do cientista cujos experimentos acabam convertendo-o em uma espantosa mosca assassina foi do próprio Shore, explicou o cantor, que defende firmemente a criação de "novos repertórios".
"Tínhamos uma reunião com ele em Los Angeles, porque estamos muito interessados em criar", e Howard Shore "nos deu a idéia de 'A Mosca', que já foi um filme de sucesso, e acho que ficou em sua cabeça, pois desde então ele queria fazer uma ópera sobre esse tema", lembrou.
"É realmente um tema muito difícil, uma obra muito negra, mas quis agradar Howard (Shore), que sonhava criá-la", acrescentou o diretor, que viajou para Paris aproveitando o intervalo das apresentações de "Cyrano de Bergerac", que estreou no domingo no Palau de les Arts de Valência (Espanha).
A ópera "tem um repertório extraordinário" e possui de 20 a 25 temas que são sucessos garantidos, "que podem ser catalogados como 'A', porque venderão sempre, cante quem cantar, como 'Aida', 'Don Giovanni', 'Madama Buterfly', 'La Boheme', 'Tosca' e 'Carmen'", disse Domingo

Famous First Words


Essa é uma legítima sessão de exorcismo. O pessoal da Vigor Mortis sabe que a primeira frase de cada texto que eu escrevo é uma manifestação do autor para a platéia mais do que do personagem para a cena. É o meu canal de entrada na dramaturgia. Aqui vai uma lista. Considerações de minha parte são desnecessárias. Reflexões e conclusões são de inteira responsabilidade da meia dúzia de leitores que por aqui passa:

PeeP (1997)
Ed - Desculpa, mãe.

Morgue Story (2004)
Ana - Eu nunca tinha pensado numa história assim. E se for pra contar direito eu nem sei por onde começar, mas eu posso dizer a primeira coisa que me vem à cabeça.

Snuff Games (2004)
Freddy - Eu não queria estar gravando isso aqui, mas eu acho que a essas alturas eu preciso. Se eu me atrapalhar um pouco pra contar, me desculpem, mas com toda a certeza vão faltar uma série de detalhes pra que vocês acreditem que eu realmente não fiz nada.

Dimensão Desconhecida (2006)
Apresentador - Imagine que seu corpo não existe. Na verdade, ele não existe mesmo.

Graphic (2006)
Raf - Desculpa, eu acho que não entendi direito. É isso mesmo que você quer ver?

Pincéis e Facas (2006)
Cristina - Frida, Frida, Frida... Eu não agüento mais que falem de Frida!

Garotas Vampiras Nunca Bebem Vinho (a estrear em março de 2007)
Wanda - Você quer saber o que aconteceu? Eu também. É tudo muito mais simples do que você imagina. (pausa) Tá bom… mentira. Não é. Nunca é.

Vegas (texto em producão para 2008)
(???) - Esqueça. Pôquer não é um jogo de equipe.

Mais exorcismos a caminho,