domingo, 18 de fevereiro de 2007

Saber que foi amado



"Knowing You Were Loved/wasn't that the best thing that you ever had?/Knowing You Were Loved/Trade away your loneliness/You thought, you could never die."
The Apartments.

O amor é a ilusão da eternidade. Trocamos nossa solidão por qualquer outra coisa, mesmo que seja por uma mentira.
Nossa necessidade por "ser amado" nos desvirtua de qualquer linha de raciocínio, mesmo quando raciocinamos e conseguimos ter discernimento de tudo, mas não conseguimos AGIR COM discernimento.

É sobre isso - PERDA DE DISCERNIMENTO - que tento falar em "PINCÉIS E FACAS", em cartaz no Teatro José Maria Santos até o dia 25/02.

São quatro imagens desta perda.
A mulher "historicamente insignificante" que tem um caso com o marido da irmã famosa no intuito de tanger - nem que seja por um segundo - a grandeza e a atenção que ela inveja.
A socialite que perde o marido e vê sua vida desmoronar por ilusões da continuidade da imagem que o falecido tinha dela.
O amolador de facas que, mesmo sabendo que o Dia dos Mortos mexicano é apenas uma metáfora para o retorno de entes queridos, espera a volta do espírito de sua mulher como solução para a redenção de seus erros.
O guerrilheiro que vive no passado de algo que ele julga ter construído para seu país, quando na verdade lhe faltou construir a si mesmo, e sua mulher que - esta sim, mais do que qualquer outro - trocou a sua solidão pela ilusão de ser amada.

Nota extra: quando Karla Fragoso me convidou para fazer uma peça sobre Frida Kahlo, relutei por não me sentir jamais cativado pela obra(e tampouco pela biografia) da pintora. No entanto, como foi a primeira vez que me chamaram para dirigir um projeto que não fora inicialmente idealizado por mim, aceitei na esperança de encontrar algo que me empolgasse.

É preciso tempo para encontrar paixão(real ou ilusória) num projeto, mesmo aqueles que eu crio "da capo", ainda mais neste caso. Ontem, no meio da segunda temporada da peça, apaixonei-me de vez pela montagem. Talvez tarde demais, mas o fato é que vi as peças do quebra-cabeça que eu mesmo recortei se encaixarem de vez. Não há nada mais emocionante para um diretor/autor ver o que começou do nada(um arquivo em branco no processador de texto apenas com o nome pinceisefacas.doc) tomar vida e com FORÇA! Ver o elenco com propriedade plena do texto e de seus personagens, lhes dando mais do que interpretação. Lhes dando carne.

"Carne é carne", diz Ximena(Rafaella Marques) para o amolador de facas(em uma das minhas frases favoritas da peça). Ela tenta banalizar o corpo, que já estava antes banalizado por seu passado como prostituta, assim se iludindo de novo e de novo sobre sua insignificância. "Se eu for insignificante," - segue seu raciocínio ilusório - "nada de mal que me acontece tem importância, afinal, sou pequena demais". Em outra cena mais adiante, o marido ex-guerrilheiro retruca: "Cada homem tem a sua importância!", lembrando de cada vida que tirou e viu ser tirada em batalha. "Chega, Guillermo, venha para a cama", implora Ximena usando inutilmente o sexo como instrumento de fuga, mas a realidade é que o homem em sua cama É a realidade. Carne não é apenas carne mais. É a SUA PRÓPRIA carne agora.

Mesmo tendo começado de um jeito meio torto, creio firmemente que "Pincéis e Facas" é uma das peças mais representativas que já fiz. Jamais por Frida Kahlo, claro, mas por seus personagens inventados em ilusão por mim(com a ajuda de Frida, claro...) e transformados em realidade por um elenco maravilhoso que eu tenho vontade de abraçar e beijar agora mesmo.

Obrigado pela genial luz da gloriosa Dani Régis. Obrigado Chico, Marcel, Renata, Fabiana, Marcinho, Dalvin, Guilherme, Leandro... e principalmente:
Obrigado Dani, por sua constante inquietude de ator que te faz ser cada vez maior. Você é meu irmão e tem meu amor eterno.
Obrigado Fabiano, por ter encontrado sua inquietude nessa peça e tê-la usado lindamente.
Obrigado Marci, por saber que tem que dar um "pau na zorba" no texto.
Obrigado Sidy, obrigado mesmo pela prontidão, pela podrice e pela "língua de gordo"
Obrigado Karla, Obrigado Karla, Obrigado mil vezes. Por seu olhar "no retrato" e por ter me dado essa chance. E por ser incrível, claro!!!!
Obrigado Rafa. Estou vendo você ser uma atriz cada vez mais linda(em todos os sentidos!) a cada dia que passa. Te agradeço por permitir esse testemunho. Love you, little sis, more than you know.

Neste momento me arrepio e quase - apenas quase - derramo uma lágrima lembrando de cenas da peça. Talvez essa paixão seja real... o que me desmente de tudo que escrevi acima. Não importa. Preciso disso, nem que seja ilusão.

O que resta agora é compartilhar isso com o público. Enjoy. Cheers.

3 comentários:

miss K disse...

em lagrimas só tenho a agradecer toda sua dedicação, gentileza e inteligencia ao proporcionar este belo espetaculo. mil vezes obrigada a vc paulo!!!!estou muito feliz e honrada!!! quase triste, mas a felicidade é maior, transbordante....quase me afoga!!!

karla fragoso[a proponente....incrivel!!!]

Anônimo disse...

Querido diretor
Tbém vou falar...
Não sou bom com as palavras, mas preciso te dizer que sua gentileza sempre me impressionou.
Qual diretor agradece e sempre pede "por favor"? Só você!
Obrigado e um beijo no seu coração,
Fabiano

Sidy Correa disse...

Acabei de ler. As meninas tinham comentado ontem ( a Karla e a Marcilene)do blog. Paulo, eu é que tenho que te agradecer por fazer parte deste projeto e de ter pela primeira vez (de muitas com certeza!!!)trabalhado contigo no teatro (já que fizemos um vídeo interno juntos!!ahahahah). Tenha certeza que sempre que precisar de prontidão, podridão e linguas gordas ou magras estarei à disposição com o maior prazer!!!

um grande e gordo abraço e uma lambida de gordo no rosto!!! ahahahaha

bjão!