sexta-feira, 23 de maio de 2008

Ontem eu fiz 13 anos...


... quando sentei no cinema para Ver Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal. Já coloquei em posts anteriores que o Caçadores da Arca Perdida foi a porte de entrada para compreender a linguagem de cinema, de direção, etc.. Então ver o filme foi como retornar ao começo. Logo nas primeiras cenas me senti literalmente rejuvenecido. Como se eu fosse um garoto na matinê do Cine Condor. Poderia até escrever meus comentários sobre o filme, mas análises frias não cabem aqui. É preferível ficar com a sensação causada pelo estalar do chicote. Ela é indescritível, mas fala muito.
Agora volto à realidade e aguardo agosto quando farei três vezes o número do título, mas se eu continuar ativo como o velho Indy... tudo bem.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Post Modern Kaspar Hauser


A cena de abertura do filme "24 Hour Party People" de Michael Winterbottom tem uma frase célebre. Depois de mostrar o protagonista fazendo um vôo de asa delta, ele cai no mato e vai até a câmera. Olha para a lente e diz algo assim:
- Essa cena que vocês viram representa muito bem a história que vou contar. Só vou dizer uma palavra: "Ícaro"... Se você entendeu, ótimo. Se não entendeu, tudo bem... mas você devia ler um pouco mais.

As últimas semanas foram cansativas, mas ao mesmo tempo reveladoras sobre alguma situação da humanidade hoje em dia. Ontem em aula mostrei uma cena de Psicose e perguntei quem já tinha visto o filme? Apenas um levantou a mão. Ao mostrar a cena do chuveiro, um dos alunos perguntou: " E quem mata ela?" . " A Mãe", eu respondi com um sorriso. Ao ver a cara de perplexidade, insisti: " E você sabe quem é a mãe, não?". E a resposta foi com uma cara ainda mais perplexa... "Não".
"MEU DEUS!!! O que você esteve fazendo com a sua vida?", não agüentei e falei.
E eu não estou falando de alunos desprovidos de possibilidades de informação. Não. Muito pelo contrário.
Mas mesmo assim, me senti estar frente a frente de um Kaspar Hauser Pós moderno.
Outro dia conversei com um cara e perguntei, "Você viu 'um corpo que cai'"? E a resposta foi novamente "não". Até aí tudo bem, ninguém é obrigado. Mas o não veio acompanhado de "Eu não gosto muito de filmes de terror."
Wie bitte?
Seria então possível ouvir a frase "Nunca ouvi falar da Mona Lisa. Não gosto muito de Pintura" ou então "Nunca ouvi o Requiem de Mozart. Não gosto muito de música."
Temos quantidades tsunâmicas de DVDs, além de wikipedia, 200 canais de TV... e tudo isso serve apenas para ser descartado.
Quando era garoto, o cinema hollywoodiano fazia um ou dois grandes blockbusters por ano. Um Tubarão, Um Ghostbusters... agora são pelo menos 20. O Homem de Ferro faz um puta sucesso, mas na semana que vem ninguém mais se lembra do filme e já quer outra coisa. Nada é absorvido. Nenhuma reflexão é feita, nem que seja sobre a interpretação do Robert Downey Jr.
Vivemos em uma era fast food e nem mesmo nos lembrados se pedimos o número 1 ou o número 2.
E não sou nenhum Harold Bloom. Sou aquele personagem daquele filme meia boca "IDIOCRACY" que num futuro dominado por pessoas com q.i. abaixo de 60 salva a humanidade ao diagnosticar que as plantações estavam morrendo porque elas estavam sendo regadas com Gatorade.
Talvez o Kaspar Hauser esteja invertido. Eu e mais alguns poucos companheiros vamos à praça qualquer dia desses com uma carta na mão.
Não entendeu?
Vai ver o filme do Herzog ou pelo menos leia na wikipedia quem foi Kaspar Hauser