sexta-feira, 15 de abril de 2011

O tempo em você ou você no tempo?

Fazendo uma paráfrase da notória citação de Stanislavski, trago a estas sessões de exorcismo um demônio mais externo que interno.
Que diabos é essa tal de dramaturgia contemporânea que tanto falam? Mais que isso : por que há esse desespero em ser contemporâneo? E ainda mais: que o que há de contemporâneo em estabelecer dogmas?
Vejo algumas pessoas afirmando categoricamente que as velhas dramaturgias devem ser exiladas, enterradas e olvidadas. Todo esse letricídio em prol da boa e nova dramaturgia.

Algumas perguntas:
1) o que faz uma dramaturgia ser velha? Ou se preferir "demodê", "datada", "sooooooo last season", etc...?
2) por que de repente o "novo" passou a ser mais importante que o "inteligente"?
3) o que é mais importante: A arte em você? Ou você na arte? O que é atual em seu olhar ou uma força artificial para que seu olhar pareça atual?

Por vezes, como professor e como freqüentador de teatro, vejo que "contemporâneo" é usado como palavra mais bonita para disfarçar "vaidade". A mais fútil das vaidades. Vestir-se com o que há de mais novo (????) na moda dramatúrgica. Moda? Na arte? Tá, tudo bem. As coisas até combinam, mas elas definitivamente não são a mesma coisa. E mesmo que se aproximem: os artistas ditam a arte através da sinceridade de seu olhar. Os que copiam são... Bem, são meras cópias baratas da Renner. Prefiro ser designer independente com uma loja nos fundos.

Pelamordedeeus! Não se violem se obrigando a emular a voz de Sarah Kane. Ela já se foi e deixou caminho aberto para que a gente faça o que quiser. Nossa própria voz. Escreva o que é verdadeiro e pertinente, não o que a "moda" ou os tais dogmas da modernidade ditam. ISSO é ser contemporâneo, pois isso é o que CRIA o nosso tempo.

Well, cada um faz o que quer, mas ninguém venha me dizer que o tal contemporâneo deve rejeitar "isso e aquilo". O momento onde se estabelecem regras e dogmas é o que há de menos contemporâneo. A pós modernidade acabou e o que vivemos hoje é campo livre de criação.

Vamos ler história para fazer tempos atuais mais interessantes.

(obs: Não há fotos neste post. Imagens seriam perniciosas e hipócritas aqui)


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We gonna raise, trouble, We gonna raise, hell.

terça-feira, 12 de abril de 2011

The Dark Days




Não é uma questão de se orgulhar ou se envergonhar desta anedota:
Ao completar 18 anos, fui me apresentar ao serviço militar. Cheguei no quartel (no mesmo lugar que hoje
abriga cebolas empanadas australianas e outras lojas) e, ao fazer a foto, o funcionário do recrutamento percebeu meu sobretudo preto e meu cabelo espetado por uns 8 cm na vertical acima da minha testa. Ele fez uma careta e soltou um som que parecia um riso de desaprovação, então finalmente perguntou :
- Você é pãnque?
E eu: - Não.
- O que que você é então?
Sem titubear, no auge do meu niilismo oitentista, respondi:
- Não sou nada.
E ele ficou quieto.
Sim. Naquela época eu ouvia The Cure e não cogitava usar outra cor que não o preto, pois seguia a máxima de Morrissey: "I wear black on The outside, cause black IS how I feel on The inside".
Naquele ano eu fui ao porão do Bar do Hermes, vulgo Berlin, antes freqüentei o Voltz, fui ao Amarilis, acompanhei porres de amigas queridas no meia oito (fundos do sal grosso), eu mesmo tomei um inconveniente porre que me fez acordar no dia seguinte com um corte fundo no meio da testa. Não me pergunte como me cortei. Acho que foi ao bater com a cabeça na chave do banheiro depois de ter ido lá pra... você me entende.
Presenciei - empunhando minha câmera de video VHS - um batuk do China com direito a Dustin na bateria.
Fui convidado do Estação Treblinka (polêmico programa da finada Estação Primeira).
Escondi livros de poetas malditos embaixo de meu sobretudo e furtei placas de farmácias homeopáticas às cinco da manhã.
Tive rompantes byronianos de romantismo e fui buscar respostas nas obras do Salinger.
Tive de empurrar minha Belina 78 pra fazer pegar no tranco e fui às pré estréias da meia noite no Cine Ritz.
Decorei frases do Blade Runner e vi Stranger Than Paradise em VHS pirata alugado do Tape Clube do Paraná (ou será que na época chamava-se Disk Tape?)
Conheci a pedreira antes de descobrirem que era um lugar legal para fazer shows (e bem antes de des-descobrirem isso.) e tomava tanqueray em lugares jamais descobertos por seres dignos.

E e eu me orgulho disso?

Bem...

Claro que sim!

Mas não vou fazer nenhum alarde. Só o texto acima. só. Para antes que eu me esqueça.
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We gonna raise, trouble, We gonna raise, hell

domingo, 3 de abril de 2011

NEVERMORE - trailer

Neste dia 6 de abril as 20:00 na Cinemateca de curitiba haverá exibição de Morgue Story com o anúncio de lançamento do DVD. Vamos sortear dois DVDs para quem for lá.
Agora que o morgue inicia carreira de Home Video, começa também a carreira de meu novo trabalho: NEVERMORE - três pesadelos e um delírio de Edgar Allan Poe.
O trailer saiu hoje.

http://vimeo.com/21887286





Este trabalho que reúne quatro curtas metragens baseados em obras de Poe é especial por vários motivos. Cito dois:
1) Completei meu aniversário de 41 anos trabalhando no set, com uma breve pausa para comer um bolo de morangos, doce de leite e brownie feito pela brilhante assistente Eugenia Castello.
2) Edgar Allan Poe sempre foi a base de inspiração para todo o meu trabalho. Seus textos são minha verdadeira bíblia.
Berenice, o primeiro dos quatro, terá estreia mundial em Detroit, EUA, neste mês de abril. Este e os outros curtas (Morella, Ligeia e O Corvo) terão exibição em tela grande em junho.
e o meu braço terá para sempre tatuada a palavra NEVERMORE .
word!