segunda-feira, 28 de maio de 2007

dois lados e um freak show


Graphic acabou no CCBB. Se por um lado eu me sinto com um buraco no peito, por outro lado estou bem mais leve.(buracos no corpo por lógica nos aliviam de pesos, right?)

Foram sete semanas que por um lado pareceram infindáveis, por outro parece que estreamos na semana passada.

Não quero me repetir, mas terei de dizer: Esse lugar aqui é um show de aberrações à beira do mar. E nós fomos mais uns freaks desse espetáculo por sessenta dias...e ainda gostamos disso. Agora só restam lembranças dessa meia dúzia de monstros com rombos no corpo.

"Then i painted your face
On a twenty dollar bill
But it isn't legal tender
And i think about you still
And all the comfort in words
Provide no comfort
We can all go mad together
That's what friends are for

And at the sideshow by the seashore
The girls are dressed as mermaids
An electrical storm has caught us in a trap
Maybe if i yell at you
You'll trust in what i'm sayin'
But i'm keepin' all the secrets
And i have nothing else to say"
Luna

Mas daqui a pouco tá de volta. começar pelo filo ( www.filo.art.br )

domingo, 20 de maio de 2007

to G.

Uma consideração aos sonhos despertos. Sonhos que tive ontem criados por aquele que talvez seja o maior self-exorcist de todos. Sem exagero. Aqui vai um longo telegrama a ele:
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G,

Stanley Kubrick recebeu um telegrama de um outro cineasta - não me lembro exatamente quem, acho que era o Zefirelli - que comentou sobre sua experiência ao ver "2001 - A Space Odyssey" em uma frase: "You made me dream eyes wide open". Sem nenhum trocadilho com o canto do cisne(já vou falar de cisnes de novo) do Kubrick, foi exatamente esta a sensação que tive ontem ao ver "Terra em Trânsito/Queen Liar".

Não via uma peça da Dry Opera desde "Coro e Camarim" e "Ventriloquist" e foi genial ter reencontro de amigos. Aliás, é exatamente isso a experiência com "Terra em trânsito", primeira parte do programa. É a tua voz, mas pela voz e corpo da Fabi. Fato que em si já é impressionante. Vê-la em cena nos causa uma das impressões mais maravilhosas do teatro: estar ali vendo aquela performance brilhante ao vivo em uma sala com pouco mais de 100 pessoas. Nos dá a idéia de raridade. De que nós do público somos realmente privilegiados por estarmos ali presenciando o trabalho aqui-agora de uma atriz que encontra verdade plena em cada gesto e palavra. Vamos admitir. O texto oferecido aos atores não é dos mais gentis. Um ataque verborrágico que etá mais para uma crônica - com a fúria de artaud e as referências de um Bloom - do que para texto de teatro. E até seria um texto duro e literário, não soubesse o autor que ele iria para a boca da Fabi e ela consegue dar verdade dramática a cada vígula. Verdade mesmo, i.e.: a verdade humana da palavra.

Com essa sonoridade e drama estabelecidos, o que resta é apreciar as palavra com ainda mais sabor. Ri muito com as brincadeiras feitas com Sarah Kane, Harold Pinter e Bruno Ganz. Um riso do humor de trocadilhos.. de Monty Python... de Gerald Thomas.

O espetáculo segue e a platéia está continuamente tentando desvendar os signos em cena. Até que no final, surge um texto que manda essas leituras semióticas à merda. Claro que é uma provocação. Mas um "Parem de ficar tentando ler símbolos e signos e comecem a ver a peça!!!"(não com essas palavras) é jogado no público. Ele está certo. Devemos indubitavelmente saber se estamos grávidos de Tony Blair, mas devemos antes de qualquer coisa estar abertos a arte ali presente.

Poderia ficar outras dez páginas falando sobre o Cisne judeu com o fígado prometido a Strasbourg e sua cabeça fadada ao lixo, mas tenho que seguir ao "Rainha Mentira"

Muitos críticos e conhecdos me advertiram sobre esta ser "menor que a "Terra.."" .
Menor é o caraleo !!!
Gerald, você agora é a sua própria diva wagneriana com sua voz dublada por todos os atores/personagens. Se antes ouvia a tua voz pela voz da Fabi, agora estava explícito como numa opera seca direta ao público.
E que cenas lindas! A queima-de-livros-nazista/WTC-waiting-to-comedown é uma imagem que jamais sairá da minha mente. Mas não é so isso. Como sempre, Gerald, você se expõe. Essa é a tua arte. Sempre foi esse o caminho e você está escolhendo novas maneiras de percorrê-lo. Nunca se deixa levar pelo mais confortável. Sempre se coloca à beira de um abismo sem ter asas nem cordas... apenas confiando que a queda não será mortal, apenas muito, muito dolorida.

Lembro com muito carinho das converas que tivemos comendo um cachorro quente do Au-Au. E lembro com agradecimento da tua ligação de NY quando meu pai morreu. Ontem eu tive a impressão de estar lá conversando, rindo e discutindo contigo e depois te fazendo uma ligação que nunca fiz na hora certa pra poder te retribuir o carinho.

Ao final de "Rainha Mentira" eu estava aos prantos. E não é só pelos motivos acima. A razão principal é essa: Diretores surgem e desaparecem como a moda dita e a obra de Gerald Thomas nunca deixará de ser pertinente (fazendo uma referência ao Cisne) por que ela pode parecer a alguns absurda, desconexa e hermética, MAS NÃO É!!! É acima de tudo HUMANA!!!! Mais humana do que pelo menos 90% do teatro que se produz hoje. Tua expressão, Gerald, vibra aos corações e às mentes feito diapasão. Isso se faz com idéias e emoções vivas e você as tem como muitidões dentro de si. É por isso que quando você é um encenador de si mesmo, está encenando também a toda a humanidade.

Vou parar de escrever que se eu lembrar mais vou fazer papelão aqui e voltar a chorar.

Obrigado Fabi pelo convite e um obrigado ainda maior pela tua verdade de atriz.

Obrigado Gerald. Quando trabalhei contigo tive um time of my life. I've moved on quite a bit since. Desde então achei minha própria voz, mas só pude fazer isso depois de muito ouvir a tua e depois ainda tirá-la de mim. Ontem te ouvi de novo. Estava com saudades disso. Já estou com saudades de volta.

LOVE.

P.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

City of Dreams


Demônios vâo e demônios vêm. Aqui estão eles de volta quase dois meses depois. Mais famintos que nunca. Ainda mais sedentos por uma boa briga com o Exorcista de Si Mesmo. Então... this is your first night at the fight club. You have to fight.

Dizem que só conhecemos amigos no inverno, pois a verdade é que eles são ainda mais transparentes no verão. Nesta Baía de Guanabara é sempre verão. Um verão que cansa. Será que as pessoas daqui conhecem lã, camurça ou outras maravilhas da indústria têxtil? Deixa pra lá. Não vou inventar uma teoria de que a alegria só é possível se estiver coberta de lã.

Minha relação com essa cidade é de uma ambigüidade atroz. Olho para o mar de cima de minha amada neguinha(uma linda beach- bike preta) e acho tudo lindo de doer. O caminho de Copacabana ao Leblon desviando pela Lagoa é de morrer de bacana. Mas quando desço de minhas duas rodas, vejo uma realidade infestada de imaginários. Isso aqui é Los Angeles. É Hollywood mas com muito - muito mesmo - menos glamour. Estou numa Mullholland Drive periférica. Ainda assim a Cidade dos Sonhos.. mas dos sonhos pequenos. E não suporto esse tipo de sonho. Muito pouco daqui é real. Nem mesmo a Naomi Watts seria tão influenciável.

Quero acordar deste sonho e fazer com que todos os personagens dele também acordem. Mas o sonho tem sua parte boa. Então vamos dormir mais um pouco. Pelo menos até o despertador tocar desesperado como que se arrependendo pelas horas desperdiçadas de sono.

Todos os dias, antes de começar a peça enquanto o público está entrando, toca no Teatro III uma música que não poderia ser mais apropriada ao momento e local:

"We live in the city of dreams
We drive on this highway of fire
Should we awake and find it gone, remember this our favorite town"
Talking Heads

A cidade favorita é a que não foi inventada. A não ser em nossos sonhos. Só que sonhos daqueles que temos quando dormimos. Não desse tipo aqui.

Dois demônios pequenos mortos hoje.