quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Leap of Faith


Peço perdão pela barata filosofia cristã-cinematográfica.
Em "Indiana Jones e a última Cruzada" a provação final de Indy antes de chegar ao Graal é dar o seu "leap of faith", um salto de fé. Ele vê uma porta do outro lado de um penhasco que parece sem fundo e a solução é "simplesmente" ter fé no seu salto que ele chegará do outro lado. Medo. Relutância. Fé. E ele dá o passo sobre o nada. Havia uma ponte ali que, por uma ilusão de ótica de quem só olha para outro lado e para o vertiginoso penhasco, parecia não estar, mas ESTAVA ALI o tempo todo.
De vez em quando, nos borramos diante desses penhascos e temos que dar um leap of faith. Dá um cagaço, mas o Graal e a vida eterna estão do outro lado. Portanto...
Eu já dei uns 5 desses. Sei que vou ter que dar mais alguns. Espero não cair no penhasco por excesso de fé na próxima.

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Academy Award Winner


Então é claro que vamos ver o Oscar hoje.
Seja pra torcer pela justiça tardia ao Scorsese, pela família da Miss Sunshine, simplesmente para ver os artistas e sua fashion attitude ou ainda para se projetar ali sonhando em estar recebendo o prêmio um dia. Ah... vai que você nunca pensou nisso!! Nunca começou a ensaiar seu discurso no espelho do banheiro? Jogue a primeira pedra! Se você não fez isso, deixe de ser uma pesoa chata! faça agora mesmo. Páre de ler isso aqui e trate de ir agradecer e se possível até chorar. É divertido.
De minha parte, estou na verdade preocupado com a vitória dos prêmios técnicos do Labirinto do Fauno (melhor filme do ano pra mim!) do que nos prêmios principais que são meio barbada. Helen Mirren, Forest Whitaker e Scorsese já separaram lugar na lareira de casa. Resta saber do resto.
O primeiro Oscar que eu vi "quase" inteiro, foi o do ano do E.T. e até hoje não entendi o que foi aquele Ghandi que ganhou melhor filme. Passado todo esse tempo, vendo oscars anualmente, a coisa fica meio repetitiva e sabemos que muitos daqueles filmes e pessoas ali vão desaparecer. Alguém aí viu "Tender Mercies" pelo qual Robert Duvall ganhou prêmio de melhor ator? Alguém aí tem "Laços de Ternura"(melhor filme de 83) na sua coleção de DVDs?
Não poderia fechar esse post sem uma citação. Em 1981, quando " O Homem Elefante" do nosso amigo David Lynch, concorreu a 8 estatuetas e não ganhou nenhuma. No dia seguinte da premiação o produtor do filme, um certo Mel Brooks(esse mesmo), foi indagado por jornalistas se ele estava triste com a perda nos Oscars. Brooks resppondeu que não, pois acreditava firmemente que "'Gente como a Gente'(vencedor de melhor filme naquele ano) seria em 10 anos resposta para uma trivia do Oscar. Enquanto que " O Homem Elefante" seria o filme que as pessoas estariam vendo". Dito e feito.
O Oscar não mede nada de qualidade, blá, blá, blá.... não vou repetir esse disco, mas é verdade. Assim como é verdade que a gente ADORA torcer, anyway.
Gostamos e precisamos de ídolos. Os ícones religiosos de hoje são as figuras de Hollywoood. Mesmo que a gente esqueça deles amanhã, pelo menos por um dia, vamos adorar estar a seus pés.
E eles serão felizes para os resto da vida vendo trailers que anunciam seus nomes como "Fulano de Tal, Academy Award Winner".
Tomara que o Guillermo del Toro seja um deles, porque eu venero o "evangelho" que ele criou com o seu Fauno.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Age of Consent

"Won't you please let me go / These words lie inside they hurt me so
(...)
And I'm not the kind that likes to tell you / Just what you want me to / You're not the kind that needs to tell me / About the birds and the bees
(...)
I've lost you, I've lost you, I've lost you, I've lost you, I've lost you..."

A imagem é de "Rushmore" de Wes Anderson, mas comentários sobre o filme ficam para outro post. Na verdade, esta música já fala muito e nem vale a pena colocar uma imagem aqui ou escrever muito.

New Order imprime de forma supreendente alegria extrema em versos sobre perda.

Não é de estranhar tanto. Em alguns casos, razoavelmente raros, a perda pode ser motivo de regozijo.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Homem sem talento

Aqui vai uma mini peça ou um grande solilóquio que escrevi em 2002 para jamais ser publicado ou encenado. Os tempos eram outros, os demônios eram diferentes, mas não muito.

Homem sem talento - Sou eu sim. Sou eu quem vocês estavam procurando. Não deu muito trabalho, eu sei. Mas eu tentei me esconder. Juro. Sem querer ser cínico, mas tenho que dar os parabéns pela sua investigação e busca. Nunca vi uma operação com tantas pessoas. É uma pena que nenhum jornal queira publicar captura e execução. É sempre assim, matéria de capa quando alguém comete um crime e, com alguma sorte, uma pequena nota quando o criminoso é executado
Mas agora vou dar um motivo para que eles mudem de idéia. Pode ser que não adiante nada, mas eu tentei, como tudo na minha breve existência neste deprimente reino encantado.
Vou confessar tudo, e vocês vão adorar que eu confessei. Era o que vocês queriam, não era? Vou dar isso de presente pra vocês. Mesmo sem colocar nenhum dedo em mim, já digo que chega! - a tortura já foi demais. Eu não posso agüentar nem mais uma palavra, então, podem ficar descansados. Eu confesso: sou eu mesmo. Eu sou um homem sem talento.
Fui abençoado, ou amaldiçoado, não sei dizer a diferença, apenas com a ilusão de ter algum dom. Ainda sofro deste mal. Mesmo quando vocês estiverem prestes a me guilhotinar, estarei com essa idéia fixa. Apesar de confessar, sou insano demais para reconhecer meu crime, porque não o vejo. Foi esta a minha falha sempre... desde o início. Fui um louco em não ver isso. E ainda sou. Então sei que cometi um crime porque vocês não param de dizer isso. Portanto passa a a ser verdade. Para dar ainda mais credibilidade, isso ficou escrito. Eu, e apenas eu na minha loucura, sei que é mentira, mas isso não interessa. Afinal, eu falei que era louco, e isso não passa de um devaneio.
Vocês não se cansam de endeusar Kafka e seu Joseph K.. O próprio Kafka nem queria ser endeusado, pra início de conversa. Ele queria ser, e era, Joseph K.. Isso todo mundo parece saber, mas não entende. Eu entendo. E é por isso que não quero endeusar Kafka. Por que ele ficou na mesma merda que eu estou agora. A merda dos fracassados. Vocês adoram dizer que o Joseph K. é um pobrezinho, "olhem, o sistema está esmagando Joseph K.. temos que fazer alguma coisa". E fazem, vocês fazem o papel do sistema, só que hipócrita, por que falam que pessoas como Kafka eram coitadinhos geniais. Eu não. Não sou coitadinho e muito menos genial. Kafka iria me adorar, iria me endeusar.
É por isso que, na minha loucura, eu não quero inverter esta situação aqui. Eu não quero que vocês morram. Não, eu quero que vocês existam. É preciso que vocês existam. Só peço que me deixem existir também. Que vergonha... estou aqui ... me humilhando. Também que se foda, não me custa nada me humilhar. Aliás, não adianta nada também, mas eu quero. Quero descer mais, quero chegar no fundo do poço e lá cavar minha própria cova. "Famous last words..." não é assim que dizem? Só espero que eu não fique apenas na categoria de "last words". Mas é o que vai acontecer, já não tem mais remédio.
Não tenho mais esperanças. Posso até tentar me conformar com as histórias de vidas como a de Edgar Allan Poe, que morreu na merda, de Van Gogh que morreu na merda, de Orson Welles, que não morreu tanto na merda, mas era alguma merda mesmo assim. Não, eu olho para mim mesmo e não tenho esperança nenhuma. Meu legado será a merda, morrerei na merda, ponto final.
Eu estou divertindo vocês o suficiente? Poderia ser mais engraçado? Perdão, nem essa capacidade eu tenho. Lembrem-se, sou um homem sem talento, portanto vocês podem até gostar deste meu longo epitáfio, que antes de ser escrito já está coberto de musgo. Mas vão achar chato e sem graça, porque eu não tenho talento, não se esqueçam. Foram vocês que falaram isso. Então tenham pelo menos a decência de serem coerentes.
A essas horas, depois de tudo o que falei, alguém de vocês já deve estar pensando: "não, não é bem assim, a gente nunca achou que ele não tinha talento", e completarão com alguma frase que seja pior do que não ter talento. Alguma gracinha, algo "talentosamente" engraçado e todos rirão sem culpa. Por favor, não me entendam mal, em nenhum momento quis jogar a culpa sobre vocês. Não importa o que eu diga, nada vai evitar os comentários maldosos que se seguirão, então não tentarei lhes convencer do contrário. Aceito todas as acusações que quiserem impor sobre mim. Digam o que quiserem, eu aceito. Minha loucura não me permite concordar sinceramente com nenhuma de suas gracinhas talentosas, mas aceito, porque não preciso saber o que você pensam. Estou condenado e isso me basta. Para um condenado, não importa qual a acusação, importa apenas o fato de que ele foi condenado. E esse sou eu.
Pronto. Já confessei. Espero que vocês tenham gostado. Espero ter trazido algum alívio. Algum prazer. Como? Mais prazer ainda? Tudo bem, repito a frase que vocês mais adoraram: Sou um homem sem talento. Gostaram? Eu fui o mico de circo que vocês queriam? Pedem para que eu faça alguma gracinha e eu, pronto para atender, faço. Mas só vou fazer isso uma vez. Se eu atender a mais um pedido seu, passarei a ter um pingo de talento. E ninguém aqui quer isso, quer?
Não sou seu palhaço. Um palhaço teria algum talento. E além do mais, alguém ser palhaço de alguém é uma mera questão de ponto de vista.
Agora, já basta. Podem me levar para a guilhotina. Mas por favor, prestem muita atenção no resultado da minha decapitação, pois vocês estarão vendo minha cabeça se transformar num corpo independente, livre. Por essa ironia eu lhes agradeço, pois ela me serve de cura para insanidade.
Como condenado, tenho direito a um último pedido? Não? Era de se esperar. Tudo bem. Já tenho agora tudo o que preciso.
Deixem-me então olhar para vocês uma última vez,e, por favor, não desviem seus olhares. Continuem me encarando, me intimidando. Eu gosto disso agora. ... Mais uma vez obrigado. Vocês estavam certos sobre mim. Mas eu estou feliz. Estou orgulhoso de mim mesmo por ser esse homem sem o talento que vocês exigiam. Depois de tudo o que foi dito, estou certo que uma cabeça vai rolar: a minha. E eu não dou a mínima.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Confrontos


" I Know karate, voodoo too!"
Tom Waits, 'Goin' Out West'

Peguei minha bicicleta para uma boa volta. Fones no ouvido e Berotec na bolsa, enfrento a ciclovia do parque. Empolgado com a música vou pedalando e me sentindo como no River Raid quando empurrava o joystick pra frente.
Um kilômetro de caminho e eu vejo uma menina em sua bicicleta vermelha. As rodinhas deviam ter sido tiradas neste verão. Ela olhou pra mim e assustou-se. Não sei ser era por meu ritimo de pedaladas violento e orangotânguico, motivado pelo Tom Waits nos fones, ou por aparência pouco típica para o lugar, com minha camiseta preta do eXistenZ com a cara do Cronenberg. A poucos metros de nossa colisão(impossível para mim, mas eminente para ela), a menina desviou a bicicleta em direção a pista de cooper, mas o caminho de grama entre um e outro era íngreme e ela viu seu bólido carmim descontrolar-se. O rosto que antes era de susto para mim transformou-se agora em pânico. Um desespero muito sutil que se percebia apenas por uma alteração nos músculos em volta do olho, mas que definitivamente estava lá. Apesar da desesperança, a menina bravamente controlou a bicicleta até a outra pista.

No final de minha volta pelo parque, olhei para o lado e vi uma íngreme descida de grama de 2 metros. Tive um desejo louco de descer, mas segui reto.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Saber que foi amado



"Knowing You Were Loved/wasn't that the best thing that you ever had?/Knowing You Were Loved/Trade away your loneliness/You thought, you could never die."
The Apartments.

O amor é a ilusão da eternidade. Trocamos nossa solidão por qualquer outra coisa, mesmo que seja por uma mentira.
Nossa necessidade por "ser amado" nos desvirtua de qualquer linha de raciocínio, mesmo quando raciocinamos e conseguimos ter discernimento de tudo, mas não conseguimos AGIR COM discernimento.

É sobre isso - PERDA DE DISCERNIMENTO - que tento falar em "PINCÉIS E FACAS", em cartaz no Teatro José Maria Santos até o dia 25/02.

São quatro imagens desta perda.
A mulher "historicamente insignificante" que tem um caso com o marido da irmã famosa no intuito de tanger - nem que seja por um segundo - a grandeza e a atenção que ela inveja.
A socialite que perde o marido e vê sua vida desmoronar por ilusões da continuidade da imagem que o falecido tinha dela.
O amolador de facas que, mesmo sabendo que o Dia dos Mortos mexicano é apenas uma metáfora para o retorno de entes queridos, espera a volta do espírito de sua mulher como solução para a redenção de seus erros.
O guerrilheiro que vive no passado de algo que ele julga ter construído para seu país, quando na verdade lhe faltou construir a si mesmo, e sua mulher que - esta sim, mais do que qualquer outro - trocou a sua solidão pela ilusão de ser amada.

Nota extra: quando Karla Fragoso me convidou para fazer uma peça sobre Frida Kahlo, relutei por não me sentir jamais cativado pela obra(e tampouco pela biografia) da pintora. No entanto, como foi a primeira vez que me chamaram para dirigir um projeto que não fora inicialmente idealizado por mim, aceitei na esperança de encontrar algo que me empolgasse.

É preciso tempo para encontrar paixão(real ou ilusória) num projeto, mesmo aqueles que eu crio "da capo", ainda mais neste caso. Ontem, no meio da segunda temporada da peça, apaixonei-me de vez pela montagem. Talvez tarde demais, mas o fato é que vi as peças do quebra-cabeça que eu mesmo recortei se encaixarem de vez. Não há nada mais emocionante para um diretor/autor ver o que começou do nada(um arquivo em branco no processador de texto apenas com o nome pinceisefacas.doc) tomar vida e com FORÇA! Ver o elenco com propriedade plena do texto e de seus personagens, lhes dando mais do que interpretação. Lhes dando carne.

"Carne é carne", diz Ximena(Rafaella Marques) para o amolador de facas(em uma das minhas frases favoritas da peça). Ela tenta banalizar o corpo, que já estava antes banalizado por seu passado como prostituta, assim se iludindo de novo e de novo sobre sua insignificância. "Se eu for insignificante," - segue seu raciocínio ilusório - "nada de mal que me acontece tem importância, afinal, sou pequena demais". Em outra cena mais adiante, o marido ex-guerrilheiro retruca: "Cada homem tem a sua importância!", lembrando de cada vida que tirou e viu ser tirada em batalha. "Chega, Guillermo, venha para a cama", implora Ximena usando inutilmente o sexo como instrumento de fuga, mas a realidade é que o homem em sua cama É a realidade. Carne não é apenas carne mais. É a SUA PRÓPRIA carne agora.

Mesmo tendo começado de um jeito meio torto, creio firmemente que "Pincéis e Facas" é uma das peças mais representativas que já fiz. Jamais por Frida Kahlo, claro, mas por seus personagens inventados em ilusão por mim(com a ajuda de Frida, claro...) e transformados em realidade por um elenco maravilhoso que eu tenho vontade de abraçar e beijar agora mesmo.

Obrigado pela genial luz da gloriosa Dani Régis. Obrigado Chico, Marcel, Renata, Fabiana, Marcinho, Dalvin, Guilherme, Leandro... e principalmente:
Obrigado Dani, por sua constante inquietude de ator que te faz ser cada vez maior. Você é meu irmão e tem meu amor eterno.
Obrigado Fabiano, por ter encontrado sua inquietude nessa peça e tê-la usado lindamente.
Obrigado Marci, por saber que tem que dar um "pau na zorba" no texto.
Obrigado Sidy, obrigado mesmo pela prontidão, pela podrice e pela "língua de gordo"
Obrigado Karla, Obrigado Karla, Obrigado mil vezes. Por seu olhar "no retrato" e por ter me dado essa chance. E por ser incrível, claro!!!!
Obrigado Rafa. Estou vendo você ser uma atriz cada vez mais linda(em todos os sentidos!) a cada dia que passa. Te agradeço por permitir esse testemunho. Love you, little sis, more than you know.

Neste momento me arrepio e quase - apenas quase - derramo uma lágrima lembrando de cenas da peça. Talvez essa paixão seja real... o que me desmente de tudo que escrevi acima. Não importa. Preciso disso, nem que seja ilusão.

O que resta agora é compartilhar isso com o público. Enjoy. Cheers.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Be afraid. Be very afraid.



"A Mosca" é até hoje o maior sucesso do meu ídolo David Cronenberg. Um filme que celebra tudo o que hea de melhor na narrativa fantástica e conto gótico: terror e sexo, imagens repulsivas e metáforas, personagens perturbados, etc...
O conflito de Seth Brundle que vai se tranformando em mosca(uma representação acelerada da decomposição do corpo diante do envelhecimeto.) e vendo seus valores, amores.. e dentes se perderem dão certamente manga para um belo libreto de ópera... mas... putz... será???

Enfim, tem tudo pra dar errado, mas mesmo assim ... PRECISO VER ISSO!!!!

17/02/2007 - 13h24
Terror "A Mosca" vira ópera nas mãos de Plácido Domingo
da Efe, em Paris

O tenor e diretor de orquestra Plácido Domingo e o diretor do Teatro do Châtelet, Jean-Luc Choplin, anunciaram a estréia da versão em ópera do terror "A Mosca", com música de Howard Shore.
A nova ópera terá a versão cênica a cargo do canadense David Cronenberg, que levou ao cinema um filme de ficção cientifica e de terror com o mesmo título.
Domingo dirigirá a orquestra deste "sonho" musical de Shore, compositor da trilogia de "O Senhor dos Anéis" (2001-2003), "O Silêncio dos Inocentes" (1991) e "Os Infiltrados" (2006).
A estréia mundial da obra está prevista para 1º de julho de 2008, no Teatro do Châtelet, em Paris, e dois meses depois, em 7 de setembro, na Ópera de Los Angeles, que é dirigida por Plácido Domingo.
A idéia de encenar a tragédia do cientista cujos experimentos acabam convertendo-o em uma espantosa mosca assassina foi do próprio Shore, explicou o cantor, que defende firmemente a criação de "novos repertórios".
"Tínhamos uma reunião com ele em Los Angeles, porque estamos muito interessados em criar", e Howard Shore "nos deu a idéia de 'A Mosca', que já foi um filme de sucesso, e acho que ficou em sua cabeça, pois desde então ele queria fazer uma ópera sobre esse tema", lembrou.
"É realmente um tema muito difícil, uma obra muito negra, mas quis agradar Howard (Shore), que sonhava criá-la", acrescentou o diretor, que viajou para Paris aproveitando o intervalo das apresentações de "Cyrano de Bergerac", que estreou no domingo no Palau de les Arts de Valência (Espanha).
A ópera "tem um repertório extraordinário" e possui de 20 a 25 temas que são sucessos garantidos, "que podem ser catalogados como 'A', porque venderão sempre, cante quem cantar, como 'Aida', 'Don Giovanni', 'Madama Buterfly', 'La Boheme', 'Tosca' e 'Carmen'", disse Domingo

Famous First Words


Essa é uma legítima sessão de exorcismo. O pessoal da Vigor Mortis sabe que a primeira frase de cada texto que eu escrevo é uma manifestação do autor para a platéia mais do que do personagem para a cena. É o meu canal de entrada na dramaturgia. Aqui vai uma lista. Considerações de minha parte são desnecessárias. Reflexões e conclusões são de inteira responsabilidade da meia dúzia de leitores que por aqui passa:

PeeP (1997)
Ed - Desculpa, mãe.

Morgue Story (2004)
Ana - Eu nunca tinha pensado numa história assim. E se for pra contar direito eu nem sei por onde começar, mas eu posso dizer a primeira coisa que me vem à cabeça.

Snuff Games (2004)
Freddy - Eu não queria estar gravando isso aqui, mas eu acho que a essas alturas eu preciso. Se eu me atrapalhar um pouco pra contar, me desculpem, mas com toda a certeza vão faltar uma série de detalhes pra que vocês acreditem que eu realmente não fiz nada.

Dimensão Desconhecida (2006)
Apresentador - Imagine que seu corpo não existe. Na verdade, ele não existe mesmo.

Graphic (2006)
Raf - Desculpa, eu acho que não entendi direito. É isso mesmo que você quer ver?

Pincéis e Facas (2006)
Cristina - Frida, Frida, Frida... Eu não agüento mais que falem de Frida!

Garotas Vampiras Nunca Bebem Vinho (a estrear em março de 2007)
Wanda - Você quer saber o que aconteceu? Eu também. É tudo muito mais simples do que você imagina. (pausa) Tá bom… mentira. Não é. Nunca é.

Vegas (texto em producão para 2008)
(???) - Esqueça. Pôquer não é um jogo de equipe.

Mais exorcismos a caminho,

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Little Children


Somos todos criancinhas. E teimamos em querer criar criancinhas, mesmo quando nós mesmos não sabemos nos criar. Nem mesmo sabemos o que queremos de verdade. Coisas ou pessoas.

"And you may find yourself living in a shotgun shack
And you may find yourself in another part of the world
And you may find yourself behind the wheel of a large automobile
And you may find yourself in a beautiful house, with a beautiful
Wife
And you may ask yourself-well...how did I get here? "
Once in a Lifetime, Talking Heads

Todd Field é um diretor interessante. Sabe cosntruir o drama a partir dos personagens com uma verdade rara no cinema. "Entre Quatro Paredes"(In The Bedroom) já tinha uma coleção de dramas/melodramas de classe média com um sabor amargo com eventuais adoçadas. Só que essas adoçadas são para o público e o diretor, não para os personagens.
Em "Pecados Íntimos"(pecado público é essa 'tradução' do original " Little Children"), Field desenha um novo grupo de personagens nervosos e confusos. Ele sabe perfeitamente o limite do patético na tragédia e ri junto com o público. Não se leva a sério na medida certa. Faz cinismo com tudo em pauta: de patologias sexuais a traição conjugal.
Em um momento ele faz graça com a figura do tarado recém liberado da cadeia entrando em uma piscina cheia de crianças. Os pais em desespero quando percebem a presença do 'monstro' tira todos os filhos da piscina e deixam apenas aquela criança velha e estranha sozinha ali. Como se fosse um rato de rio nadando sozinho na água. O roteiro não cai no perigo de deixar seu personagem nem monstruoso e tampouco bonzinho. Ele é um psicopata! Não nos deixa esquecer disso. Por outro lado ele também é um sujeito com quem podemos perfeitamente nos identificar. Afinal, todos nós temos nossas psicopatias em maior ou - esperançosamente - em menos escala.
Katel Winslet. Eu adoro essa garota. Desde "Heavenly Creatures" de Peter Jackson a " Brilho Eterno de uma Mente sem lembranças" de Michel Gondry(aliás, onde está " Science of Sleep"??? filme novo dele com gael Garcia Bernal e Charlotte GainsBourg - olha que casal jóia!). Ela sabe sacanear com ela mesma. E este personagem aqui é um prato cheio para a atriz ser podre com seu material. Ela sabe "judiar" da mãe-que-não-sabe-que-é-ausente trabalhando com nuances e sutilezas, nunca com o histriônico.
Tenho dúvidas ainda pra saber se gostei do final do filme, mas isso é problema meu. Não sei decidir tudo ainda. Sou uma criancinha também. Preciso de orientação paterna.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

trying real hard


"Maybe it means: you're the evil man, and I'm the righteous man, and Mr. 9mm here, he's the Shepard protecting my righteous ass in the Valley of Darkness. Or, it could mean: you're the righteous man, and I'm the Shepard, and it's the world that's evil and selfish. I'd like that, but that shit ain't the truth. The truth is: you're the weak, and I am the tyranny of evil men.
But, I'm tryin', Ringo, I'm trying real hard to be the Shepard." - Samuel L. Jackson como "Jules" em "Pulp Fiction"

Eu tô tentando mesmo ser o pastor.

Já disse antes e repito. Tarantino é um cineasta da minha geração que fala para a minha geração.
Vi Cães de Aluguel pela primeira vez numa sessão das 22h no Cine Bristol - no falecido Cine Bristol (que segundo consta costumava ser antes o Cine Marabá). Eu fui ao cinema sozinho - acompanhado apenas de minha fiel Belina 78 verde que me aguardava na parte estreita Mateus Leme. Dentro da sala de 600 lugares, eu e mais umas seis pessoas. Ao meu lado, na platéia do outro lado do corredor, um casal que buscava apenas um canto para uns malhos.
O filme começa. Explica a metáfora de Like a Virgin. Opa, tem algo de diferente aqui que está fazendo meu coração vibar feito diapasão.
Na célebre cena em que Michael "Mr Blonde" Madsen corta a orelha do policial, eu ria descontroladamente de prazer com a podrice daquele diretor, Meu prazer era tanto que eu precisava compartilhar com alguém e instintivamente olhei para o casal ao meu lado. Eles já estavam me fitando com um olhar que dizia: "qual o seu problema? por que é que você está rindo dessa cena tão violenta?"

Aposto que esse casal riu a valer anos depois vendo Kill Bill.

Poucos dias depois, levei o Maurício e mais uns amigos meus para rever o filme. A gerência do cinema disse que só haveria sesão se tivesse pelo menos 5 pessoas e nós estávalmos em 4. Aguardamos alguns minutos e celebramos a chegada de mais duas pessoas.

Dois anos depois eu estava fazendo mestrado em Londres e haveria uma pré estréia de Pulp Fiction num cinema da cadeia MGM que se não me era o MGM Shaftsbury Avenue. Claro que eu estava lá. Quando percebi que o filme tinha mais de duas horas e meia e que eu poderia perder meu último trem devolta para meu lar em Egham, fiquei preocupado, mas novamente o filme começou e eu disse a mim mesmo que o trem da linha Reading das 11:52 poderia se fuder. Eu tinha que estar ali.

"I Love You Hunny Bunny"

Tá. E essa história de tentar ser o pastor?

A gente estabelece metas e usa referências (Ezequiel 25:17 ou uma letra do Morrissey) e acha que isso vai ser pragmático e poético ao mesmo tempo, só que essas coisas NUNCA andam juntas. Nós somos continuamente imbecis em acreditar que podemos quebrar esta regra, mas - nas palavras do Morrissey - "plans can fall through and so often they do. and time is against me now".

O que sobra no fim das contas não é conseguir fazer o plano "A", mas tentar meeeeesmo fazer o plano "A", mesmo sabendo que ele não vai dar certo. Ah, a humanidade....

"I'm tryin', Ringo, I'm trying real hard to be the Shepard."

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Just Like Heaven


'show me, show me, show me how you do that trick. the one that makes me scream' , she said, ' the one that makes me laugh', she said. and threw her arms around my neck.
The Cure, Just Like Heaven

Quem me conhece sabe que eu amo este verso. Começo este blog com isso de forma quase espiritual, pois batizei este espaço como "self exorcist", i.e. um exorcista de mim mesmo, e o que o Robert Smith diz com esta letra - como o próprio título já sugere - é a descrição do paraíso em vida. Uso a letra como meu primeiro auto-exorcismo.

Aquela série de perguntas feitas no final do inside actor's studio termina com 'se existe céu, o que você gostaria de ouvir de Deus quando chegasse lá?'. Minha resposta é que Ele cantasse 'Just Like Heaven' pra mim. Se Ele dissesse "me mostra aquele truque que me faz gritar, que me faz rir" e jogasse seus braços em meu pescoço, aí sim eu poderia crer plenamente Nele.

Ah, sim! E que Ele surja para mim como a Grace Kelly acorda o James Stewart em "Janela Indiscreta"(outra legítima representação do paraíso que Hitchcock oferece)!!

O meu trabalho com Morgue Story, Graphic, Snuff Games e cia. é o meu caminho a isso.

Estou tentando aprender esse 'truque'.