domingo, 30 de setembro de 2007

Charlotte Sometimes

São raras as criaturas sobre a terra que, se passassem aqui na frente de casa, seriam capazes de me fazer questionar meu matrimônio: Louise Wener(ex vocalista do Sleeper), PJ Harvey, Britta Phillips, Ziyi Zhang e Charlotte Gainsbourg. 
Filha da realeza pop francesa, ela é tão bacana quanto qualquer música do seu pai, Serge... talvez não mais que "Chatterton", mas enfim. Recentemente seu nome esteve em manchetes por conta de sua internação por hemorragia cerebral causada por uma acidente de esqui aquático(até pra isso ela é chique.). Parece que está tudo bem. Tomara. Ela pode não ser uma atriz fantástica, e o "queixão" não a deixa nas listas das mais sexy (fora a minha, claro), sua voz no ótimo disco "5:55" não é fantástica(embora as músicas não parem de tocar no meu ipod), mas ela tem A presença, como sua mãe Jane Birkin. Talvez até mais. 
Passou agora no Festival do Rio "The Science of Sleep", eu já vi aqui em casa algum tempo atrás(não me pergunte como) e, embora como intérprete o Gael Garcia Bernal sapateie em cima dela, sua figura é mesmo da a mulher idílica por suas imperfeições. O personagem de Gael sonha com uma mulher que ela não é, mas como ele quer que seja. Seu mundo de sonhos torna-se tão mais interessante que ele passa a viver dentro dele. Sonho e realidade se mesclam resolvendo por vezes e problematizando na maioria das outras vezes a própria realidade.A felicidade completa é impossível na vida real.  A felicidade do sonho é caso para tarja preta. Ou seja, a humanidade está perdida como sempre. 
Michel Gondry (o mesmo diretor de Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças) prova que não precisa de Charlie Kaufman de roteirista para ser um ótimo contador de histórias surreais. E ele ainda escolhe Charlotte Gainsbourg pro elenco. Way to Go, Michel! 
Desejando melhoras a Charlotte e também desejando que ela nunca passe aqui na frente de casa pra não complicar minha vida, deixo aqui uma foto dela no filme de Gondry e um link de 5:55 no YouTube(o embed da musica está proibido, damn!): http://www.youtube.com/watch?v=JKPXPJryp3g

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Delfin

O Mundo precisa saber disso!!!
Obrigado Guilherme por me trazer este link. Eu não sei dizer o que é melhor aqui. Talvez seja a qualidade da interpretação, talvez seja a letra pungente, talvez seja o elegante figurino ou talvez seja simplesmente o número de contato do bagual no topo da tela. Liga lá e contrata para um show na sua casa. Mmmm.. É demais pra você, né?
O que o pessoal do Tim Festival está fazendo que não contratou esse cara, porra?
Tá certo, a grandiosidade requer um Maracanã só pra ele. Entendam os motivos clicando abaixo. Som na caixa!

domingo, 23 de setembro de 2007

Dica's Tropicaliente 2 - Wolfgang Press

Essa é velha, mas eu nunca tinha visto o clip. Vi o último show da banda no Jazz Café em Londres em 95, pouco antes deles terminarem. Pena que não tem mais. A música abaixo é um clássico do Tom Jones. "That ain't the way to have fun, son!"

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Dica's Tropicaliente - episódio 1 - DEXTER

Por sugestão do Guilherme "The Man" Sant'anna, começo aqui uma nova série de dicas de programas e músicas com nome inspirado na célebre "casa de diversões" curitibana. Para começar, estou viciado num seriado que eu julguei uma tremenda "forçação" de barra pelas chamadas, mas que é muito esperto e tem diálogos geniais. DEXTER conta as aventuras de um serial killer de serial killers. Trabalha durante o dia como hematólogo para a polícia e à noite sai para caçar assassinos que escaparam do sistema. Essa é a parte bocó. O legal mesmo são as relações estabelecidas nas histórias paralelas. Sobre querer ser normal ou querer ser um humano socialmente aceitável. Os roteiros dos episódios brincam com a nossa noção de normalidade, com a necessidade de se encaixar na sociedade e com os nossos próprios sadismos. Aqui vai um trailer pra quem quiser ver na FOX ou em qualquer outro lugar que vocês sabem como ver: 
   

domingo, 9 de setembro de 2007

Pogo Ball

Frantic Flintstones - ontem
Já lanço dois posts aproveitando que estou animado. Senão esqueço disso e ... bem, espero que alguém leia e faça isso valer a pena.
Ontem fui no Psychobilly Festival que encerrou com show dos britânicos Frantic Flintstones. Independente da apresentação (divertidíssima e genialmente executada), a diversão num festival desses é sempre garantida. 
Devo confessar... eu, pai de família, professor de curso superior, master of arts pela royal holloway e tudo mais... ADORO POGO!!!!!!!
Tá, já se foi o tempo de eu me jogar lá dentro e levantar meus braços 90º com o corpo para defesa/ataque. Peço então emprestadas as eloqüentes palavras do senhor Aurélio Marinho Jargas de http://aurelio.net/musica/pogo.php  :
"O movimento é o seguinte: você anda, dando os passos no ritmo da música. A cada passo, a perna é levantada e esticada, dando-se um chute no ar, como se estivesse chutando uma bola de futebol. Um chute médio, nem fraco nem forte.
Nota: O detalhe é que ao invés de chutar o ar, você chuta outras pessoas, pois estão todos espremidos, lembra? Mas preste atenção, você não está chutando outra pessoa porque você quer. A música faz você chutar o ar e por acaso há outra pessoa no lugar do ar. Tanto o chutante quanto o chutado estão cientes disso, então todos se chutam o tempo todo e isso é normal.
O tronco e a cabeça são movimentados para um lado e para o outro, acompanhando o ritmo e os chutes. É a ginga.
Os braços ficam dobrados em 90 graus e os punhos fechados, fazendo um movimento alternado, para frente e para trás, no ritmo da música. É como um boxeador em posição de defesa do rosto, só que com a guarda mais aberta (os punhos não se tocam) e os cotovelos bem afastados. A cabeça fica levemente abaixada. Esta é uma posição de defesa da cabeça, para evitar colisões. Assim, nos choques o que se bate são os cotovelos e antebraços.
Algumas variações incluem uma posição diferente dos braços, dobrados na vertical e fazendo movimentos para cima e para baixo. Ou ainda dar joelhadas no ar ao invés de chutar."

Aê!!!!!!! It's a Holiday in Cambodia!!
O mais legal de tudo isso é que é uma diversão meio fight club. A violência é necessária... mas carinhosa. Pelo menos ontem, quando a diversão estava ... er... "civilizada"...quando alguém, no meio da roda perde o equilíbrio ou leva um jab torto que acaba o levando ao chão, é imediatamente ajudado por seus companheiros que acabaram de nocauteá-lo. Não me pergunte agora o porquê, pois não cabe filosofar... mas eu vejo uma baita poesia nisso. 

"Champagne for all!!!" 

Paranóias e Fantasias

a fantasia do fauno
a paranóia de friedkin

Todo ano no meu aniversário tento "me dar" uma sessão de cinema à tarde. Ver um filme à tarde é sensacional, mas é justamente a raridade do evento que transforma a experiência em algo especial. 
Este ano aconteceu uma pequena coincidência. Fui ver "Possuídos"(Bug), com direção do William Friedkin(Sim, o diretor do Exorcista himself!) que curiosamente festeja seu aniversário no mesmo dia que eu. Bem, frescuras à parte, o filme pode não ser um dos melhores dos últimos anos, mas traz um ambiente extremamente perturbador e algumas questões interessantes sobre o problemático instinto de sobrevivência social do ser humano. 
Ashley Judd (que sempre fez papel de bonitona, mas que aqui se embagaçou feio à propos do roteiro) é uma mulher solitária que trabalha como garçonete num bar de lésbicas enquanto tenta esquecer do seu marido na cadeia e do desaparecimento de seu filho. Michael Shannon(um excelente ator de teatro que repete aqui o mesmo papel que representou no palco) é um homem tímido e misterioso que aparece na vida da personagem de Judd sem aparentemente nenhum interesse passional ou sexual, mas que, ao longo do filme confessa ser um desertor da guerra do iraque com fortes traumas de guerra. Ele imagina que tem insetos sob sua pele, comendo seu corpo e mandando informações ao governo num absurdo exercício de teoria da conspiração. Sua fé cega nestes insetos invisíveis torna-se central em sua vida e Judd, para não se sentir só, começa a crer também na existência dos bichinhos. 
Quando duas pessoas se envolvem, cria-se uma nova realidade entre elas e somos capazes de acreditar em qualquer coisa, mesmo que seja numa paranóia desmedida, só para não ficarmos sozinhos. Temos que ser loucos para pertencer.
Que maldito bichinho aciona este mecanismo de segurança que é capaz de nos levar até a autodestruição feito a Nostromo. 
Algo semelhante acontece no meu filme favorito de 2006, a obra-prima O Labirinto do Fauno, de Guillermo del Toro. A menina Ofelia se vê impelida a acreditar num mundo de fantasia povoado por reis, faunos e fadas afim de escapar de sua tenebrosa vida real em meio a um padrasto-militar-franquista-sociopata-misógeno (um dos melhores bandidos de todos os tempos, cortesia da magnífica interpretação de Sergi Lopez). Ela busca a sua loucura para não pertencer, ou melhor para pertencer a algo que tenha a visão de mundo de sua inocência, violentada a cada segundo com tragédias consecutivas. 
Criamos paranóias, fantasias e delírios para tentar encontrar algum centro. Saímos do centro para tentar encontrar nosso próprio eixo.
É como o homem do corvo de Edgar Allan Poe, que sabe perfeitamente que o corvo não quer dizer e nem sabe o significado de 'nevermore', mas mesmo assim quer acreditar piamente na intenção do animal para poder justificar sua dor.
"And the raven, never flitting, still is sitting, still is sitting
On the pallid bust of Pallas just above my chamber door;
And his eyes have all the seeming of a demon's that is dreaming.
And the lamplight o'er him streaming throws his shadow on the floor;
And my soul from out that shadow that lies floating on the floor
Shall be lifted--- nevermore!"

Isso nunca vai mudar. Tomara! São essas loucuras que, embora socialmente nefastas, fazem do ser humano uma contínua fonte de inspiração artística. Todos fazemos isso. Em escala maior ou menor, mas fazemos. Resta saber os limites de nossas loucuras e vôos da mente nas asas negras de um corvo imaginário.