terça-feira, 12 de abril de 2011

The Dark Days




Não é uma questão de se orgulhar ou se envergonhar desta anedota:
Ao completar 18 anos, fui me apresentar ao serviço militar. Cheguei no quartel (no mesmo lugar que hoje
abriga cebolas empanadas australianas e outras lojas) e, ao fazer a foto, o funcionário do recrutamento percebeu meu sobretudo preto e meu cabelo espetado por uns 8 cm na vertical acima da minha testa. Ele fez uma careta e soltou um som que parecia um riso de desaprovação, então finalmente perguntou :
- Você é pãnque?
E eu: - Não.
- O que que você é então?
Sem titubear, no auge do meu niilismo oitentista, respondi:
- Não sou nada.
E ele ficou quieto.
Sim. Naquela época eu ouvia The Cure e não cogitava usar outra cor que não o preto, pois seguia a máxima de Morrissey: "I wear black on The outside, cause black IS how I feel on The inside".
Naquele ano eu fui ao porão do Bar do Hermes, vulgo Berlin, antes freqüentei o Voltz, fui ao Amarilis, acompanhei porres de amigas queridas no meia oito (fundos do sal grosso), eu mesmo tomei um inconveniente porre que me fez acordar no dia seguinte com um corte fundo no meio da testa. Não me pergunte como me cortei. Acho que foi ao bater com a cabeça na chave do banheiro depois de ter ido lá pra... você me entende.
Presenciei - empunhando minha câmera de video VHS - um batuk do China com direito a Dustin na bateria.
Fui convidado do Estação Treblinka (polêmico programa da finada Estação Primeira).
Escondi livros de poetas malditos embaixo de meu sobretudo e furtei placas de farmácias homeopáticas às cinco da manhã.
Tive rompantes byronianos de romantismo e fui buscar respostas nas obras do Salinger.
Tive de empurrar minha Belina 78 pra fazer pegar no tranco e fui às pré estréias da meia noite no Cine Ritz.
Decorei frases do Blade Runner e vi Stranger Than Paradise em VHS pirata alugado do Tape Clube do Paraná (ou será que na época chamava-se Disk Tape?)
Conheci a pedreira antes de descobrirem que era um lugar legal para fazer shows (e bem antes de des-descobrirem isso.) e tomava tanqueray em lugares jamais descobertos por seres dignos.

E e eu me orgulho disso?

Bem...

Claro que sim!

Mas não vou fazer nenhum alarde. Só o texto acima. só. Para antes que eu me esqueça.
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We gonna raise, trouble, We gonna raise, hell

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