segunda-feira, 7 de março de 2011

Click!!




Lembrei hoje de algo que meus alunos de direção sempre me xingam pelo meu excesso de objetividade no quesito "como descobri que queria ser diretor". Não tem como negar. Foi algo extremamente simples mesmo. Aqui vai a breve narrativa (para aqueles que se interessam. Afinal é uma história de objetividade extremamente subjetiva em seu conteúdo.) :
Em 1982, eu estava na sétima serie do Colégio Anjo da Guarda. Começava a conquistar alguma Independência de ir e vir com a maravilhosa descoberta do ônibus 'Bigorrilho' que saía da praça Tiradentes e parava ao lado de casa. Com esta Liberdade proporcionada pelo transporte publico, comecei a pegar sessões de cinema após a aula e ir pra casa lá pelas quatro da tarde. Gostava de ir, em especial ao Cine Bristol da Mateus Leme, pois era perto da Escola e da casa da Tia Didi, onde eu eventualmente filava um almoço. Gostava deste cinema mais ainda pois ele não tinha porteiros tão rígidos no controle de censura como os do Cine Condor. A diferença de 12 para 14 anos era brutal naquela época e eu perdi de ver Os Caçadores da Arca Perdida em na estreia natalina de 1981 pois o filme era censura 14 anos e estava em cartaz no Cine Condor. No entanto, por conta das 10 indicações ao Oscar, os exibidores resolveram voltar com a película em cartaz em março do ano seguinte. Sorte minha, pois agora estava no Bristol e seria minha chance de ver o filme na tela grande (o VHS estava apenas começando a existir naquela época). A parte que eu prefiro passar por cima, pois é meio idiotinha, é que meu interesse em ver o filme não era tão cinematográfico como era histórico, pois naquele período eu era um entusiasta pela mitologia e estudo do Egito antigo. Com o almoço na Tia Didi no bucho e com a proximidade da primeira sessão as 14:00, me enchi de coragem e passei pelo porteiro do Bristol com a panca de um "adulto" de 14 anos. Oba! Consegui enganar o porteiro! Legal!
Vi o filme maravilhado. Com sua energia, com sua narrativa, com seu carisma. E voltei ao cinema outras 10 vezes para rever. Virei motivo de piada na escola por ver tantas vezes o filme e, em meus delírios de principio de adolescência, decidi que seria arqueólogo quando crescesse.
Naquele mesmo ano, meu pai me levou em julho para uma super viagem a vários lugares e um deles era Nova York. Lá eu revi Os Caçadores da Arca Perdida pela 11a. vez. mas esta foi especial pois era no gigantesco Ziegfield Theatre. Naqueles mesmos dias ainda vimos juntos o recém estreado E.T., Tron e Poltergeist. La em NY, ganhei de meu pai um pôster do Raiders of the Lost Ark (com arte do Richard Amsel que ainda está pendurado em meu escritório de casa) e um VHS com o making of do filme.
Este presente foi o mais importante de minha vida.
Vi o documentário mais vezes que o próprio filme e gostava em especial da parte onde o Spielberg dirigia a Karen Allen na cena onde ela faz competição de pinga contra um brutamontes mongol. As imagens mostravam o diretor passando instruções para a atriz e em seguida era exibida a cena definitiva no filme. No resultado não se via de forma tão direta aquele trabalho do diretor. Aquilo me fascinou mais que tudo.
Click!!!
Eu descobri o que eu queria fazer para o resto da minha vida.
Desde então dediquei-me plenamente a este ofício que adoro e que nasceu daquela sessão proibida para menores de 14 anos numa quinta feira as 14 horas de 1982.
Às 19:30 do dia 10 de março de 2011, nasce mais um resultado deste "Click": OS CATECISMOS SEGUNDO CARLOS ZÉFIRO. E aqui eu trago muito da empolgação juvenil de quando eu descobri Caçadores da Arca Perdida. Só que direcionados a descobertas mais...digamos assim...noturnas. Esta é minha 25a direção de espetáculo desde que me formei como diretor no Curso de Artes Cênicas.

Ainda fico impressionado (e agradecido) ao ver como esta breve seqüência de fatos que acabam definindo toda uma vida. E isso só por causa de um filme de aventuras. Só espero poder criar coisas que façam o mesmo.



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We gonna raise, trouble, We gonna raise, hell.

Um comentário:

Raphael Cassou disse...

Ahhhh...Marion...povoando os sonhos de muitos adolescentes e crianças da década de oitenta.