
É o fim da civilização e de toda noção de ordem como nós conhecemos.
Na quinta fomos ao Cineplex Batel para ver um filme de incestos e assassinatos com a Julianne Moore. Filme OK, só que não tem absoluta nenhuma utilidade artística, política ou com "fun factor".
Isso não é a questão. Leia post sobre Kaspar Hauser Pós moderno novamente.
Chegamos e sentamos nas confortáveis cadeiras. No cinema só havia nós outros três casais. Todos eles, menos a gente, conversando. Alto. O casal atrás da gente não apenas conversava como ficava constantemente se ajeitando na cadeira chutando as minhas costas sem nenhum pudor. Mudamos de lugar. Fomos para fileiras mais atrás e sentamos na mesma fila de um outro casal. Logo percebemos que este casal também conversava durante o filme sem parar e sem controle de volume vocal. Mariane fez um justificado "Shhh". Eles pareceram se comportar mais um pouco. Apesar dos inúmeros pacotes de guloseimas devorados vorazmente.
Em um certo momento do filme, eu percebo uma movimentação peculiar na área do outro casal na mesma fila. O sujeito levantou três braços fazendo para si um gigantesco loveseat e repousou sua cabeça sobre o braço que por sua vez estava no colo de sua amada. O resultado visual disso fazia com que ele parecesse uma versão grotesca da Olympia de Manet.
Ao sair do cinema, pagamos o estacionamento e no caminho pela praça em direção ao carro vimos o casal novamente. Ao passar por nós o sujeito, num ato de desprezo e falta de discernimento, faz um longo e exagerado "SHHHH" para a gente. E começa a subir a escada rolante.
Normalmente eu riria e não faria nada, mas não me agüentei e fui atrás dele.
No topo da escada rolante, ele começa a querer tirar a jaqueta puxando pra briga. Juro.
E eu disse : "Você tá vendo alguém levantar punho aqui, rapaz? Só quero entender como você não vê que conversa incomoda no cinema". "Eu converso onde eu quiser", disse ele. "No cinema não", respondi o óbvio. Foi aí que a namorada dele disse algo que acabou comigo. "Mas todo mundo no cinema tava conversando!"
Era verdade.
Nós éramos minoria.
O que nos resta então? Aceitar que a barbárie já chegou? Ou continuar fazendo shhh.
Mas como diria Seinfeld.: "I am not a Shushee, I am a shhusher".
Seríamos nós então dinossauros de tradições perdidas? Ficar quieto no cinema é fora de moda? Pedir para alguém ficar quieto para que eu possa prestar atenção no filme é um chamado de guerra?
Prefiro acreditar que não.
Pelo contrário.
Acho que de agora em diante vou entrar no cinema, olhar nos olhos de toda a platéia e soltar um sonoro:
SHHHHHHH!!!
Se é pra gente ser o louco que não se encaixa na sociedade, então vou levar isso às últimas conseqüências.
Se é pra gente ser a TFP new generation, então vou ser fascista.
Essa é a vontade do demônio da perversidade.
Só que tudo é tão mais simples. Não tem nada a ver com bem/mal, mas sim com ... bom senso.